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Mostrando postagens de 2016

Memórias de um Poeta

Dezembro, 2016. Fogos vermelhos subindo e terminando no ar, próximos da terra, mas distantes do céu. Os prateados conseguem ir além e encontram seu fim brilhante nas nuvens, imitando estrelas cintilantes feitas pelo homem. O cheiro de pólvora, a euforia nas ruas, pássaros assustados no céu procuram algum abrigo, cachorros atordoados com ou sem donos – a Natureza não compreende, pois nenhuma das estações completa seu ciclo dia trinta e um de dezembro. Mas alguém em 1532 achou que seria uma boa ideia e assim é. Quando criança eu adorava as bombas barulhentas e os fogos que voavam. Os que explodiam faziam eu me sentir mais próximo de um poder além de mim mesmo, era incrível observar algo acendido por mim tendo uma reação imensa, e os outros era como se fizessem eu voar, como se me carregassem em suas paletas e depois explodíamo-nos para sempre, definitivamente. Dezembro era um mês de experiências químicas simples. Sem mencionar os muros que ficavam em pedaços, afinal para que muro

A.G.

Ela é um dente de leão Se assoprá-la com carinho Ela se dissolve no ar Brisa do Leste, nasce no amanhecer Posso jurar: já vi nuvens formando A íris do teu olhar  L.A.

Memórias de um Poeta

São Paulo, 2016. Respire, não esqueça jamais de respirar. Não odeie ninguém, mesmo se o motivo parecer absoluto. Faça o bem sem olhar a quem e também ao próprio umbigo. Não importa se você não tem bilhões para exterminar a fome da África, muitas vezes um abraço faz terminar a fome da alma. O bem é simples e sincero. Sofra quando convier, não reprima raiva ou lágrimas, jamais. Mas não se entregue aos sofreres sem sentido que não possuem caminhos quaisquer. Os demônios existem primeiro dentro da gente, não tenha vergonha de si mesmo, pois os anjos também estão em nós. Se não souber para onde ir siga as emoções mais puras do coração, pode não ser a verdade do outro, mas se pulsa em seu peito é a sua verdade. E por fim: Viva cada dia sublimando os próprios sonhos. L.A.

Una

Uma flor sobrepondo outra flor Oculta num jardim de essências Nas raízes do calor e do amor O olhar por trás do Hibisco Traçando um rabisco invisível: De poemas e emoções sutis Tua inteligência atrás da ciência: Um sabre de luz com sua luminescência: Também ilumina e defende o coração Vermelho teus fios: chamas em tua coroa Segredos em cometas numa mulher estrelar Como rimar a órbita do seu olhar? Luna do país das maravilhas Leve e pura espelhando sua senhora: A doçura das flores mora em seus lábios? Ela fecha os olhos e dança imóvel com o ar Brinca no carrossel ao sorrir e transpirar emoções Porque sua pele está sempre florindo sensações Constelações pinceladas no narizinho Suas dores sempre se tornam esperança? Ela é confundida com a raridade dos beija-flores Transforma lágrimas em mel para a fé As noites recolhem o pólen dos teus sorrisos Dorme aquecida e arrepiada por sonhos Ela não termina onde acaba o corpo, não! Pois sempre se rende ao seu própri

Sonhar

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- Onde eu estive? - Você não lembra? Passaram-se mais de oitenta anos... - Parece que foi ontem, quando eu dormi. Lembrou-se de tudo ao abrir os olhos completamente: Seus oitenta e seis anos em Sonho, em vida. Recordou da vibração da placenta da sua mãe quando alguém colocava a mão na barriga e a parabenizava. O esforço gigantesco para dar os primeiros passos com seus pezinhos desengonçados, a primeira palavra, no caso dele "Magia". O primeiro sorvete preferido de tantos outros que viria a saborear. O primeiro desenho rabiscado do que deveria ser um Mago e seus cinco dragões elementais. A primeira palavra escrita: Amor, de bilhões de outras que viria a escrever, rimar e harmonizar como Poeta e Escritor. Das primeiras paixões escolares que sempre o fazia esquecer da primeira palavra que escreveu. Da primeira conclusão absoluta de sua vida: Só sei que nada sei. Os anos passaram feitos olhares desencontrados: Voltando jamais. Ele não percebeu que o Tempo não volta, pois se

Memórias de um Poeta

São Paulo, 2016 Não é um local propriamente dito, não pode ser alcançado com esforço físico ou mental. Neste lugar não há formas, apenas luz. Não há ideias ou pensamentos, apenas emoções, não sentimentos. Emoções transbordam o corpo, sentimentos são agudos. Nesta esfera, onde os anjos são nossos vizinhos e os deuses caminham em cada Caminho, despidos de qualquer misticismo ou sigilo: Apenas são. O som tem um papel muito importante neste longínquo tão perto lugar: Os passos dos deuses provocam terremotos silenciosos, pois aqui o silêncio vibra melodias inaudíveis e irreproduzíveis e o canto dos anjos fazem tremer as linhas que sustentam o Branco. Acima está Deus, O Grande Espirito, A Dourada, A Última Parada e mesmo deste degrau é possível apenas contemplar um cílio do Seu imensurável olhar, mas é o suficiente para começar a compreender toda a Criação. Não há vontade, de minha parte, de ficar aqui. Porque não pertenço, ainda, e não possuo Casa, minha alma colocou apenas um tijol

Memórias de um Poeta

França, 2049. Elas parecem terem sido feitas por abelhas espirituais antes da Vida: Banhadas em suas doçuras inalcançáveis, com o sabor da loucura e do prazer líquido. Caminham sempre mais rápido que qualquer homem bobo ou iludido. E mesmo os que conseguem tocá-las ou cantar palavras com infinitas intenções rasas, não conseguem, por puro desespero, passar da superfície delas, não: Não sabem saborear. Não possuem sensores gustativos no espírito. Porque a paixão queima os pensamentos, os tornando cinzas negras inúteis, mas o amor transcende qualquer ideia, criando referências emocionais que superam qualquer emoção anteriormente vivenciada: O amor é uma experiência espiritual, livre de apego e falsas essências mentais. Por isso são tristes ou limitados – sem ter consciência disto – os que nunca amaram. Todas as memórias deste mundo possuem traços femininos. Elas estão em todos os lugares, cativando o ar que respiram movimentando o ventre ou o Sol e a Lua que brilham ocultos no hor

Trechos de uma história sem fim

Ao encontrá-la teve que mordê-la para verificar se era de ouro ou de chocolate, se existia. A mordida revelou que em parte, ela era de ouro, pois além da existência comprovada, não era uma imagem originada de esquizofrenia, a pele tão macia que ele teve que rogar a Deus se ela era divinamente possível. Em contrapartida, também era de chocolate, com a ponta da língua ele sentiu uma doçura inexplicável. Ela trabalhava por mais de sete horas diárias numa fábrica de açúcar, as gotículas refinadas prendiam-se por toda a sua pele. Esse é o melhor trabalho do mundo para uma mulher - ele concluiria dias depois ao descobrir a ocupação daquela que ele jamais esqueceria, mas não passaria de uma mordida, não chegaria próximo de um beijo, nunca. Ela não sonhava com o amor, e não sorriu com a súbita mordida, deu-lhe um tapa e ele teve que a seguir para descobrir sua rotina e seus segredos, e continuaria em sua espreita por longos anos de contemplação. Até o dia em que ele descobriu um câncer na

O Jovem Poeta - Infância

Rússia, 1913. Descobriu que os desejos por beijos intermináveis era sua inspiração infinita se contorcendo para materializar-se e transmitir os versos de poemas que são escritos apenas com a ponta da língua. Então, pôde contornar os precipícios de sua própria loucura e chegar mais cedo do outro lado do Abismo. Tomou consciência de seus próprios limites estéticos depois de perguntar, durante a aula de filosofia, para sua paixão platônica se os feios merecem o amor, e receber uma resposta clara que surgiu no ar mais como uma flecha do que uma sílaba: -Não. Ela nunca praticou arqueirismo, mas acertou precisamente no centro do coração de Lúcio. Essa maestria com flechas emocionais só poderia existir numa donzela de tempos medievais. O que o fez concluir, durante os intermináveis discursos do professor de Filosofia, que a Verdade não existe na mente e sim no coração. Teve que respirar fundo e segurar o ar com todas as suas forças pulmonares para aquela flecha não destruir sua

Memórias de um Poeta

Rio Grande do Sul, 2061 Eu costumava imaginar uma mulher misteriosa aparecendo de repente em minha vida, em qualquer lugar, a qualquer momento. Ao ver-me cancelaria todos os compromissos e pensamentos para aquele dia, e eu também faria o mesmo, numa espécie de telepatia mútua. Sentaríamos em algum lugar tranquilo, conversaríamos sobre todas as filosofias e riríamos juntos de como elas nos fazem pensar demais quando a verdade é uma emoção. Choraríamos de rir da ironia mental dos humanos. Confessaríamos nossos segredos mais profundos, sem julgamentos ou repulsão, refletindo sobre como os segredos criam barreiras entre os casais, sobre os sonhos não conquistados e os que nos fazem sorrir até os dias de hoje, sem o ego, sem tentar impor no outro nosso orgulho raso e ilusório. Faríamos carinho um no outro, sem pensamentos maliciosos, explorando a carência do outro, os desejos reprimidos e os nunca expostos. Ela cantaria para mim numa voz angelical errando letras por conta da tim

O Jovem Poeta

Rússia, 1914. O orfanato estava mais gélido naquela madrugada de ventos invernais. O inverno mais frio desde 1867. As 00h01m Lúcio completou dezessete anos. Apenas ele sabia, apenas ele lembrava-se, não por alegria de mais um ano naquele inferno, mas por uma sombra que o cercava todos os anos, neste dia. -Ela chegou - disse baixinho. Não havia luz no quarto, a mínima claridade não fazia jus a sua poesia. Porém, era possível enxergar a sombra movimentando-se na escuridão absoluta, como se sussurrasse no silêncio de suas formas: Feliz aniversário, Lúcio. Ele não temia o escuro, escrevia nele seus poemas mentais que desapareciam no ar, para sempre: os poemas não direcionados a ninguém, os mais tristes.  Levantou-se da cama lentamente para não acordar alguém, não por compaixão, odiaria uma companhia naquela noite. Anos mais tarde, Sophie seria a única a compartilhar suas madrugadas com amor. Mas nesta época da vida dele, tudo que conhecia era a solidão. Lúcio nunca precisou d

O Jovem Poeta – Infância

Rússia, 1911 De repente, após semanas tentando controlar as comportas da sua alma, a barragem de Lúcio rompeu-se: A inspiração começou a vazar pelos olhos: uma imagem não era mais apenas uma imagem, mas um mar de ondas nervosas repletas de memórias, pessoas e amores. Pelos os ouvidos: Cada som, por mais banal que fosse, a empregada abanando os lençóis da cama, o borbulhar da comida cozinhando, a lavagem de panelas e calçadas, tudo transformava-se numa sinfonia, numa opera cuja o maestro era a Vida. Pela boca: cada palavra possuía o mesmo poder de criação que atos, cada palavra sua, dita naquele momento, poderia levar qualquer coração humano ao céu ou à escuridão. Pelo nariz: Os cheiros de donzelas, de batata frita, de frutas maduras, todos eram importantes e vívidos. E por não ser suficiente, começou a sair por todos os poros do corpo. Quem passasse ao lado dele, sentia-se inspirado por pura ressonância energética. Quem ousasse conversar com ele teria poemas atormentando suas ment

Das Coisas Inorgânicas.

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Tudo muda, todo o tempo: O sal nas lágrimas, o formato dos dentes num sorriso, o sabor do queijo preferido, a intensidade do amor, a amplitude corporal da dor, a condensação dos laços de amizades, o olhar destemido, o olhar sozinho na escuridão, os átomos de uma flor murcha, a matéria distante - morta - das estrelas, a indiferença do vento, as nuances do desejo vazio, as pessoas ao redor das expectativas, nossas pessoas interiores aquecidas por fogueiras de decepção e carinho, os sonhos tão fixos tornando-se macios e então nublando momentos ocos.  Entre mudanças perdemos chaves mentais e objetos plasmados por amores e obsessões, a memória relapsa - tão curto são cem anos - assemelha-se a uma rede de pescar com furos maiores que qualquer mamífero do mar, mas não tão grande quanto o coração: lar de moscas e anjos.  A alma é o livro, o espírito a página. Do que é feito a capa do seu livro? Quantas páginas você tem na memória espiritual - inacessível aos humanos e a onde os Magos

Céu

Vi nas formas de uma nuvem os traços do seu rosto. De repente, o céu inteiro estava narrando a história da sua vida: Tempestades num certo momento ocultaram as estrelas, rugindo de raiva e desespero interno, mas o azul da sua esperança sempre colore as tuas nuvens. Com um único porém: As nuvens pesam toneladas, embora pareçam sutis por fora, a tranquilidade das estrelas só aparece quando o peso interno deságua sob a terra, sob a vida. Be free.  L.A.

O Velho Monge

Viajou por cinco anos, incansavelmente, Procurando o venerável monge do oriente, O propósito: Aprender a silenciar a mente. Ele está no topo da montanha – apontou o menino, Ele está dentro da caverna – revelou o vendedor, Ele está no fim do abismo – disse o mercador. Procurou em todas as ruínas de civilizações antigas, Cansado, deitou e começou a observar duas colinas, Entre elas, correndo em sua direção, surgiu uma criança. Estava me procurando? – perguntou, sorrindo, Esperava alguém mais velho – retrucou, o repelindo, - Sou mais velho que você e o mais novo no mundo. Quero aprender a silenciar a mente! – gritou o seu sonho, Aprender é preencher, não esvaziar – replicou o monge, Então devo meditar? Ir com a minha mente para longe? Meditar por dever ocupa a mente com tensões, O silêncio está no agora. Ir para onde? Visitar dimensões? Responda-me primeiro, como está seu coração? Está frio como pedra! – respondeu o homem com fervor, Em algum momento da sua vida s

N.S.

Luta em meio ao seio da pressão, Mas seu coração anseia por leveza, Se irá explodir ou boiar nas ondas do mar, Suas escolhas dirão quando desaguarem: Na praia vida. Olhos mutáveis: colorem-se a partir do coração Lágrimas levam um pouco do verde, Sorrisos trazem os tons esverdeados, (E os beijos?) E o amor quando te invade, transcende: 16 milhões de cores por segundo. Pintinhas-estrelas num céu cor de pele, Inefável é seu sonhar: Constelação Stephanie, As estrelas formam gatinhos e potes de açaí, Gosto de ti porque és simples, não se perde: Na escuridão do teu Universo. L.A. Pequenino, mas espelhado em você: infinito.

É hora de voltar para casa

De repente ela acordou na margem de um lago, nunca tinha estado ali, não lembrava como chegou ali. Ao olhar para o lago, maravilhou-se ao perceber estrelas e cometas no lugar de peixes. Curiosa, afundou as duas mãos na água e tentou apanhar as estrelas e os cometas, longos minutos passaram até conseguir, mas não deixou de sorrir um segundo qualquer. Quando abriu a mão para ver o mini cometa, este voou para o céu totalmente escuro, o universo brotava da terra, dos galhos das árvores, da expiração. De certa forma, a escuridão do céu a deixou com um pouco de medo. Todas as coisas tinham sua luz própria, como se tudo estivesse vivo. Ela se divertia, ao seu redor sonhos vivos, mais de energia do que de matéria, dançavam. Os sonhos são mais velhos que o tempo - eles sussurravam em sincronia - e o amor é mais velho que todos os sonhos juntos. E desapareceram entre as copas das árvores que não pareciam serem feitas de madeira, mas de folhas brancas de livros. Arranque uma folha mi

Arquétipos Fósseis de Sonhos

Ouço, calado, sobre os sonhos serem ilusões e existirem exclusivamente no futuro, na verdade, eles estão – imaculados – no jardim etéreo do coração e constituem o fluxo energético do grande Agora. Sonhos têm vida própria: nascem chorando iguais bebês, amadurecem com as criações e destruições de ilusões, com uma única diferença: Podem morrer e retornar ao éter ou viver eternamente no peito do sincero buscador. Sonhos possuem batidas por segundo. Sonhos são o ponteiro da bússola que é o coração governado pelo magnetismo da alma. Você é um sonho para mim. Seus cabelos distorcem a realidade, num ato ritualístico: Ao vento evocam as graças das fadas sorrindo enquanto voam ao seu redor, à luz do fogo despertam a salamandras - sua beleza se funde com a força delas. Espalhados pela água são as sereias que saltam do profundo e desconhecido mar do teu inconsciente de mulher. Debruçada sobre uma árvore e de olhos fechados: Você é a própria natureza, com cânticos e danças que imitam a ess

Trechos de uma emoção sem fim

Centenas de tentativas e ele sempre soube que não era nenhuma delas - a que fará seu coração dançar novamente. Ignorado, enxotado e pisado sob olhares de desdém e indiferença. Ele não sabe conversar com garotas e elas percebem as frases dele soando estranhas e desconexas. Estudou as Letras por anos, mas seus dedos perdem todas as regras gramaticais imbuídas em conhecimento quando uma garota sorri, elas nunca imaginariam que é este o motivo dos erros precoces de alguém que não deveria errar. Simples assim. Só lhe resta poetizar para ganhar fôlego entre uma tentativa e outra de amar. Embora ele sinta claramente por onde os laços temporais iriam se com aquela surgisse algo, a princípio - daqui um ano e três meses acabaria, ou antes disto. Clarividência emocional, parece triste, porém para ele é divertido. E com as que ele sabe que os laços se estenderiam por mais de cinco anos, e a cada dia o amor reluzente ferveria ao pôr e ao nascer do sol, destas ele não consegue se aproximar, e não p

Trechos de uma história sem fim

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Ao fim de uma tarde de Primavera, ao som de solos de piano silenciosamente enlouquecedores, lembrei do seu sorriso que nunca vi e do seu cheiro preenchendo minha imaginação, porque mil e uma espécies de rosas desconhecidas deste e de outros mundos não constroem em mim as nuances do seu cheiro encantador. Dos desejos corporais guardo a vontade em brasa de grudar seu corpo no meu e sentir o calor que rege sua vida e controlar a velocidade dos batimentos do seu coração com a intensidade dos meus beijos. Tocar as partes secretas do seu corpo, procurando pela quintessência do seu sabor sobre os gemidos da sua loucura forjados pelas minhas fantasias antigas e recém-criadas. E neste jogo de desventuras trocar de posições como quem troca de alma, queimar suas roupas num calor de sessenta e nove graus. Conhecer a maciez da sua pele, navegando por suas curvas marítimas imprevisivelmente sedutoras e tempestuosas, te atingindo com ondas de prazer e ser afogado em sua maré de entrega e perdição.

Trechos de uma história sem fim

A floresta escura é sua única amiga, as árvores ressoam seus galhos e a escuridão se movimenta formando rostos e letras. Mas Lúcio não sente nada além de inspiração. Poemas exalam dos seus poros, substituindo o suor por poesia. Os pernilongos se afastam, os corvos e corujas pousam em seus ombros. Entre folhas emburacas ele consegue ver as estrelas, como laços rompidos há muito tempo que deixaram de brilhar, crescem e apenas marcam uma falsa existência. O coração de Lúcio está sempre vibrando uma energia ancestral, velho demais para este mundo, novo demais para a vida. Não são os Poetas uma incógnita sem resolução? Lúcio sente poemas das cascas das árvores, no bico da coruja em seu ombro, nas trevas brilhando no olhar do corvo, nas cicatrizes da lua, no cheiro de noite com mato molhado, nos sons sobrepostos de centenas de insetos e dezenas de animais, no movimento das folhas novas, maduras e descascando no chão. Tudo, ao mesmo tempo formam a dualidade da plenitude poética ao redor

Trechos de uma história sem fim

Os pelos do corpo são feitos com pétalas angelicais, quando ela se arrepia, é possível sentir plumas translúcidas ao seu redor, ela flutua, perdidamente, com as asas da imaginação. Sempre tão distantemente presente, ela é um paradoxo causando dúvidas no universo. Ao sorrir – de verdade – suas narinas se mexem, então se ela sorri, todos ao redor sorriam também, certos aspectos na personalidade dela marcam na memória, como se ela absorvesse todas as nuvens do céu. L.A.

Trechos de uma história sem fim

Os lábios dissolveram minha essência, Olhar carente, pele sobre mil poros desnudos, Suavizando meus dedos, desejando, Mas apenas em minha imaginação. Três minutos depois, ela se foi... ... para sempre. Não reconheci sua voz, Nunca conhecerei sua voz. Muda... ... em minhas memórias. Entre as linhas da realidade, o corpo era música, Vibrando, e tocando uma melodia invisível... ... inaudível para os humanos, perpétua em meus sonhos, Perdendo-se no infinito do acaso. Enquanto o metrô sumia no negro túnel, Um eterno pôr do sol. Senti nossos laços platônicos... ... desfazerem-se, quentes e coléricos. Quem era você? L.A.

Trechos de uma história sem fim

Ela estava triste naquele dia, seus olhos estavam secos de melancolia, febris. Os lábios rosados terminavam entre as montanhas ocultas de reinos encantados, formavam a última estação do Desejo, onde humanos não colocam os pés, sonhos ou esperanças. Em suma, seus lábios criavam um abismo entre os mortais e a imortalidade da sua beleza. Ela não é perfeita, mas suas imperfeições se conectam entre os dedos de um Poeta e o calor de um abraço distante, interminável, além das possibilidades de qualquer sonhar. Ela é um ser natural. Ela está partindo agora, desencontros – a essência da vida. Desapego – a eterna prática da existência. Aos poucos, sua beleza se desfragmentará do meu hipocampo. Mas a imagem e o som apaixonante do seu sorriso permanecerão eternamente pulsando na memória interna da última camada do meu coração, num eterno Samsara aonde as lembranças reencarnam. Adeus. L.A.

Trechos de uma história sem fim

Jasmim era a flor mais rara de todo o jardim, ela fixava seus brotos na direção do sol, mesmo sem ser um girassol e conseguia crescer em meio ao lodo, mesmo sem ser uma flor de lótus. Ela não conseguia expressar seus sonhos, mas estes sempre estavam nítidos em seu olhar - pulsavam com um brilho singular, seu olhar-labirinto: Qualquer um se perdia em sua imensidão. O som do seu sorriso dela transformava o coração das pessoas ao seu redor – as que reconhecem ela como infinita – em casinhas de beija-flores. Pois quando ela sorri abelhas invisíveis criam o mel da vida, o mel da alegria. Temporadas de harmonia em prol da Primavera. A cada cinco minutos uma graça brota das suas pétalas de criatividade, os outros não acham nada daquilo interessante: Imatura – pensam. Mas ao olhar de um Poeta toda graça se manifesta na inocência de simplesmente ser feliz. Imaturidade é sinônimo de tristeza absoluta, e não de ser ela mesma: Feliz, apesar de todas as circunstâncias tentando enfiá-la no

Trechos de uma história sem fim

Dr. Fábio era o melhor dentista de Vladivostok, até conhecer sua nova paciente, Carina. Ele é gordinho, usa óculos fundo de garrafa e tem uma boca engraçada. Decidiu ser dentista para ajudar as pessoas a terem uma vida social mais saudável: Um belo sorriso abre até as portas do inferno. Mas ao passar dos anos percebeu que as crianças tinham medo dele, as mulheres o olhavam com nojo e raramente retornavam. Porém sempre havia homens no consultório, em grupos de amigos, faziam piadas com a aparência do Dr. Fábio, ganhava dinheiro com sua própria desgraça.  Carina chegou pela primeira vez em um desses dias comuns, perguntou a sua mãe porque as pessoas estavam rindo baixinho no consultório. -O médico tem uma feiura engraçada, filha. -O que é feiura, mãe? Carina é cega desde nascença, portanto não criou um conceito de beleza, embora muitos deficientes visuais criam, com as palmas da mão. Ela prefere colecionar traços. -Existem apenas pessoas diferentes – Carina sussurrou baixinho.

Trechos de uma história sem fim

Lúcio tinha dezesseis anos quando sua visão poética começou a ampliar-se, as imagens transformavam-se em sensações e sensações eram processadas em palavras, por isso, ele sempre foi bom em tentar definir o indefinível. Sentia-se inspirado vinte e quatro horas por dia, mas a noite era mais intenso. Em sua visão pássaros são minúsculos pontos banhados em vida natural que conseguem voar e desenhar a liberdade no céu. O vento, um lençol freático sutil e imensurável cobrindo quem ele abarca em seu poder de trazer-nos para o presente. O simples ato de caminhar e sentir a rigidez do chão fundido com o simbolismo de estar indo a algum lugar ao mesmo tempo em que se parte de outro, transmutava uma simples ida ao mercado em um ato de desapego. Porém ser um Poeta era sentir tudo isso ao mesmo tempo e ter a força para organizar milhões de sensações, extraindo a quintessência: Um poema, uma crônica, um livro. Escrever é um ato alquímico. Apaixonar-se era quase como um suicídio. Já era intenso de

Trechos de uma história sem fim

Carina gostava de ir ao dentista, apaixonou-se pela forma que o Dr. Fábio cuidava da sua boca. A cada dois minutos perguntava se ela estava sentindo dor, isto não a irritava, sentia-se abraçada, cuidada diante de toda a escuridão da sua vida. Carina era cega. Às vezes Dr. Fábio tocava a pele do seu rosto sem a luva plástica e fria, Carina sorria com esses momentos. Ela sentia o sabor de flúor muito mais intenso que outros pacientes, era de Morango, assim, entre os intervalos das consultas, comia morangos todos os dias. Iludida pela paixão, não percebeu que perdia um dente a cada ano e não conseguia ver o olhar de preocupação do Dr. Fábio. E seus conselhos para Carina higienizar melhor a boca não eram devidamente ouvidos. Dez anos se passaram desde a última vez que foi ao dentista, está banguela e se recusa a usar dentaduras ou implantar dentes postiços, tem vergonha, pois evitava escovar os dentes para sentir as mãos do Dr. Fábio com mais frequência. Após uma complicada cirurgia,

Trechos de uma história sem fim

Aos quarenta anos, Juvenal era o homem mais inteligente do Estado de Louisiana, dez anos seguidos em primeiro lugar em testes de QI. Leu de Platão a Shakespeare, e deste a Stephen King. Também era versado em Matemática, tendo formação em Economia, Literatura Inglesa e Francesa. Conseguia se comunicar em oito línguas diferentes, e nas horas vagas tocava como pianista no bar da cidade. Por que? Por que tudo isso? – Ele começou a se perguntar, na véspera de seu aniversário. Sentia que não sentiu nada em sua vida por ser ateu, não religiosamente: Juvenal não acreditava no amor. E o amor é uma espécie de divindade. Consegue falar fluentemente oito línguas, mas paralisa-se ao tentar falar com o coração. Sente, subitamente, pensamentos intrusos nunca pensados antes: Perdeu 80% da essência dos poetas franceses, pois Juvenal entendia as palavras, porém não as sentia, e sem sentir não há compreensão. Shakespeare escapou da sua memória, porque sem emoção não há fixação. Memórias vazias, cont

Trechos de uma história sem fim

Os olhos dela são pontes que atravessam as dimensões do espaço tempo: Perco-me na Magia das pupilas. E quando a íris é direcionada para mim, sinto-me mergulhando num mar de estrelas multicoloridas que matam a sede das borboletas vivendo em meu estômago. Os cabelos em seu estilo ancestral preenchem a tonalidade do rosto formado pelas lágrimas de felicidade de fadas e sereias. Os traços pincelados pelo senso artístico dos anjos alteram a realidade com sua beleza. O pescoço dela possui uma força magnética para beijos lentos: As gotículas do seu cheiro de mulher viajam como estrelas cadentes ao seu redor, nenhum humano conseguiria fazer tantos desejos. Os dedos dela gostam de brincar com o fogo, acompanhando o movimento das chamas alaranjadas e seus braços criam com danças inconstantes: Emoções profundas, sentimentos passageiros e memórias guardadas em algum lugar entre a alma e o coração. Enfim, sem um fim propriamente revelado: Ela caminha sabiamente, cada passo é medido sem pre

Trechos de uma história sem fim

Era uma noite fria de Outubro, as ruas suspiravam mistérios para quem possuísse ouvidos para ouvir. -Até os espíritos estão com frio esta noite - disse um homem, anunciando sua chegada no bar.  Todos olharam para aquele misterioso homem, ninguém nunca o tinha visto antes. Era um ser humano completamente estranho, naquela cidade desconhecida por 99% da população da Rússia.  Oculta pelas imensas montanhas e protegida por um frio mortal, como se o vento gélido e as nuvens brancas tivessem consciência daquela cidade. -O que o traz aqui, forasteiro? O estranho apenas fixou seu olhar nos olhos febris do questionador. Sem dizer nada. Parecia enxergar toda a alma do habitante hostil. Em cada suspiro do forasteiro, era como se ele arrancasse as memórias do senhor de idade, bêbado. Talvez foram os quarenta graus de febre, mas depois de longos segundos ele arrependeu-se amargamente de ter perguntado, pois enxergou no homem de preto, asas brancas banhadas em uma energia mística. -Memó

Efeito: Esthela – A Voz do Coração

Divindade das pétalas de flores azuis, Mil e uma gotas de chuva formam: sua face Teus poros nasceram no céu, Seus olhos movimentam-se Como se desenhassem: Um véu para sua alma dançar, Mulher das estrelas: alma lunar, Você é duas vezes fogo Mas também te alcanço nas ondas do mar. Tua expiração é uma sutil contemplação, Na quintessência do teu ar Eu sinto você exalar: O infinito, Entre 120 batidas por segundo Teu coração se torna o palco de planetas, Sistema solares na palma da sua mão, Porque além de estrelar Você é o tom singular das músicas Que te fazem girar - até alcançar: Este instante presente e ficar a.q.u.i. Em tua pele cometas depositam sonhos E nebulosas colorem seus lábios Um quebra-cabeça do cosmos, Astrologia milenar, Pincelada pela constelação de Áries Esthela estrelar. Tua – profunda – voz ecoa dentro de mim, Teu timbre – delirante – ferve a felicidade, Na escuridão tua voz é guia para o amanhecer. Ser ou não ser, com você não é uma questão

Trechos de uma história sem fim

“Devo eu descrever o amor sem nunca o ter vívido? Não, escrevo sobre as flores, pois são o que lembro da minha infância. Flores, não amor, apenas flores.” Era essa frase que Lúcio repetia para si mesmo sem entender o valor de seus pensamentos. Os anos marcam o passado, e a cada ponteiro o sabor do beijo dela some de seus lábios. Não é esquecer que machuca, mas lembrar todos os dias que está esquecendo. Uma parte da sua consciência luta para manter as memórias. A noite seu coração cria garras e segura cada lembrança até sangrar. Até o fim. O centro do seu peito se transformou em um bueiro entupido, impossível distinguir se ele sofre de Sopro ou de aversão ao seu próprio coração partido. Cada passo pela floresta lúgubre a sua frente, ao seu redor, atrás de si, seus olhos se fecham, tão escuro é seu caminho quanto é dentro de si. Não faz diferença. Nunca fez. Desde sua infância no orfanato, sua especialização é criar personagens. Para cada situação, ele possui um outro eu, para

Trechos de uma história sem fim

Pequenas montanhas ocultando Shangri-lá, eram seus lábios. Ao redor do corpo, fumaças desmanchavam-se, navegando em sua existência e pulsando amor, quem fixava o olhar na dança dos seus dedos e braços femininos era jogado num abismo - pois essa era a distância entre ela e os humanos ao seu redor. Um abismo sem pontes. Um buraco refletindo a escuridão. Uma montanha inversa. A perdição. Pernas copiadas pelos pêssegos se estendiam apontando para o céu, seu destino final. Onde seus olhos de menina estão. O crânio e a carne não são suficientes para criar sua beleza. Por que um olhar tão triste e frio? Mulher inconstante. Fases da lua. Máxima solar. Sabedoria milenar. Subindo pelo seu mapa carnal, tuas coxas ocupam no espaço-tempo a sedução que mil outras nunca preencherão. Imagino meus dedos deslizando-se por cada poro, delicadamente, com uma pressão imitando as batidas do coração. Até ser a vez dos meus lábios entrarem em cena, neste teatro de carinho e amor. Intenso. Eterno no se

Trechos de uma história sem fim

Ela o fascinava. Viu seu corpo pela primeira vez em preto e branco, mas entre as duas cores também sentiu a alma dela. Ela era sempre gentil por mais ocupada que estivesse. Ele não sabia o porquê, escreveu tantos poemas quanto deveria, sangravam pelos seus dedos: rimas. Mas nunca foi uma fascinação por obsessão, deseja a observar de longe, namorando, casando ou simplesmente energizando a liberdade que tem no coração. Ele sabe que ninguém deve possuir ninguém. Estranhamente, para ele é mais prazeroso observar ela ser feliz do que tentar qualquer coisa, qualquer ação. Talvez seja por medo ou por pura poesia. Ele gosta de sentir o quanto o fluxo do tempo pode mudar ela. Ela pra ele é assim: Um poema com pernas lindas, um livro com coração, uma crônica com mil destinos ainda não escritos. E um abdômen que lembra sempre o céu, e ele ama não saber o porquê e nunca tentará encontrar a resposta. Ela é a única que ele se contenta em admirar de longe. L.A.

Trechos de uma história sem fim

Traços feitos com açúcar, mas desenhada com os pincéis da intensidade. Áine é uma mulher que gosta de mergulhar nas delícias da vida. Herdou da constelação de escorpião seu gosto por ter o indescritível na ponta dos dedos. As músicas abrem seu coração, afinam sua mente e fazem vibrar seu corpo: arrepia, envolve, expande. Ela naturalmente sorri, não precisa de muletas-homens para ter um sorriso que ilumina mesmo em letras bagunçadas. Se um dia você a fizer sorrir, saiba que fez nascer um pequeno sol em algum lugar. Ela é o ingrediente secreto para a vida adquirir um sabor de amor próprio. Ela gosta de Anime, na tela: aventuras com a imaginação, significados decodificados apenas pelo seu coração. E quando algumas cenas a fazem sorrir, marcam não apenas sua alegria, mas também sua memória: registrando-se para sempre, o inefável. Seus medos, sonhos, defeitos e desejos - coisinhas preciosas que dão formas aos seus fios de cabelo, lábios, olhos, passos e movimentos de braços a dançar,

Tensão

Intensidade: à flor da pele, qualidade de quem exala o infinito. Intensidade: Teu coração é arte – sentindo os traços da felicidade. Intensidade: Fecha os olhos e sorri, a música te leva a ser como nuvens no céu. Intensidade: Todas as possibilidades não são suficientes, cria-se o imensurável. Intensidade: Carinho, todos os poros da pele se tornam pontos em chamas. Intensidade: Na alegria: esborra e contagia. Na dor: as estrelas perfuram o coração. Intensidade: Todos os sabores, experimentar: Todas as paisagens do mundo. Intensidade: Nenhuma história tem fim, elas se perpetuam indefinidamente dentro da gente. L.A.

Trechos de uma história sem fim

Eu fiquei ansioso demais? Então ela disse que voltaria logo, Num momentâneo estalo: Eu senti a despedida. Ignorado, ignorado Por que não seria? Eu mesmo me ignoraria, Eu me ignoro, todos os dias. Estranhão, estranhão Incompatível com 99% da população, Invisível, poeta das ilusões, Porque é tudo o que consigo criar. L.A.

Trechos de uma história sem fim

Aos 89 anos, Juvenal descobriu ao fazer amor com sua esposa de 87 anos, que o amor é a força motriz do desejo físico. Era sempre como a primeira vez, mas era mais devagar – qualquer movimento em falso, os dois poderiam lesionar a coluna. Era contato sem obrigação, não era por prazer, mas pela conexão. As vezes durante a madrugada os dois acordavam querendo sentir aquilo – a sintonia emocional e espiritual, uma saudade introspetiva. E se a lua naquela noite estivesse iluminando o quarto, os dois faziam amor com gargalhadas gostosas – era impossível não rir da boca banguela do outro. Os vizinhos se assustavam com isso, é muito difícil conviver com o amor nos outros. L.A.

Duas Histórias

-Posso abusar de você? -O quanto quiser. -Quero outra história, ou um poema, ou uma crônica! -Você nunca se cansa? Sobre o que? Você sabe… Sou péssimo com temas. -O amor! -De novo? É a quinta vez essa semana. -Começa logo enquanto não amanhece, eu sei que você poderia falar sobre o amor por eras. -Uma história então, o estilo eu escolho. -Faz carinho em mim ao contar, quero sentir os choquinhos dos seus dedos. Era uma vez… -Sem era uma vez, quero algo concreto, sólido, mas sutil. -Isso vai lhe custar muitos beijos. -Eu sei. Era 2004 e ainda existiam garotos inocentes, mas um em especial se sobrepõe a todos os outros. Miguel tem 13 anos e gosta muito da garotinha que senta a sua frente, Melinda. -Que nome engraçado! -Tem que começar com M para sentar perto dele, dã. Ele juntou coragem por três semanas para este dia, coragem suficiente para três palavras e menos que cinco segundos. Subitamente, na troca de professores, ele se levantou, foi a frente de Melinda e disse:

Diário de Bordo

Os amores contrariados sempre tiveram um efeito positivo em mim. Os primeiros - dos anos menores. Trataram de fortalecer minhas bases emocionais. O mais importante: fizeram isso não me deixando frio. Dos anos segundos - um jovem adolescente aprendendo a viver. O único, me mostrou que o amor vai muito além do que há no corpo e pode se expandir além da imaginação. Dos anos quase finais - um adolescente cheio de hormônio, me ensinou que emoções fortes demais estragam a sutilidade do amor, me mostrou que a total confiança é essencial e cria momentos inimagináveis, um corpo nu deixa de ser um corpo nu para se tornar uma estrela aos olhos do amor. E também me ensinou a perdoar. O último - chegou na Primavera e se foi no fim do Outono, me ensinou a ser menos carente de outros e aproveitar melhor a mim mesmo. Enfim, amor próprio. Parece frio, mas não é. É que o amor próprio é sólido demais para aqueles com olhos derretidos. Não é ruim ter olhos assim! Aos 22 anos de idade.

A Verdade é um Sentimento

Amores sempre chegam com uma canção, E sem nenhuma música de fundo se vão, Alguns fazem ecoar dores de saudade, Mesmo partindo, outros deixam felicidade. Por isso o amor não é um só, claro que não! O amar é diferente para cada coração, Alguns se encontram no outro, totalmente, Outros se perdem completamente. Não é uma questão de metades iguais, mas: De partes inteiras semeando no outro: paz, A obsessão cria no peito um buraco negro, Já o amor, nos transforma em estrelas. Quando o toque não absorve, expande, O centro do peito queima e vibra, transcende, A sintonia se torna uma sinfonia de emoções, Dois corações criando: uma única canção. O amor é o ponteiro maior do universo, ele não marca o tempo, mas a vida. L.A.

Miragem

Na escuridão absoluta, seus olhos refletem as ondas do mar. Por onde você caminha, seu perfume confunde as abelhas, os beija-flores, a flora e a fauna. Tu és uma fada? Os traços do teu rosto são caminhos levando para sua beleza interior, muitos se contentam com sua face, alguns chegam e se enlouquecem com o que há dentro de ti - eles possuem dedos pequenos demais. Eu, apenas eu, viajo de olhos fechados em cada batida do teu coração, 120 mundos por segundo. Você é meu segundo universo. Quando dois universos se chocam cria-se um Big Bang? Sua voz macia é uma sinfonia para minha platéia de sonhos e desejos. Sua boca produz mel e melodias, minha abelha rainha, minha música sem fim. Coloque suas pernas sobre as minhas, vamos nos roçar feitos gatinhos, hibernar em abraços neste inverno assistindo séries completas e animes com mais de cem episódios. Porque o fim só existe quando permitimos. Cante para mim no escuro do meu quarto, cante enquanto as sombras se movem com o éter, cante enqu

02/06/2016 - 2h56min.

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A chuva cai imitando meu coração, Caindo em buracos feitos por: Borboletas do amor. Os trovões rugem como ursos, Suas garras rasgam meu coração, E por cada cicatriz escapa uma ilusão. Os desejos se perderam, não encontram: Meu coração. Todos os sonhos agora são: Portas quebradas com destinos em vão. O amor escapou dos meus dedos, O amor fugiu assustado do meu coração, O amor viajou em outra direção. Ela era o pôr do sol das manhãs, As batidas inconsequentes do coração, O ar em cada respiração, e as vezes… … O azedo do limão: Ela, a flor branca, Da esperança. A dor do amor nos transforma em algo mais tangível e real. L.A.

Nuvens

O jogo das nuvens sempre pareceu-me mais interessante que os jogos dos homens, as nuvens não lutam por um placar, elas dançam continuamente numa beleza íntima, e ao cansarem nos deixam com o azul que mal compreendemos. Todos nós nascemos procurando formas nas nuvens, mas ao crescermos a maioria perde a forma do olhar: se torna frio e físico demais. Na verdade, eu poderia dizer que as nuvens são os inconstantes palcos dos elementais do ar, porém isto é segredo. Raras vezes esbarramos com alguém que espelha uma nuvem na terra, geralmente essas pessoas são tão misteriosas que mesmo que nos contassem suas vidas inteiras o ar de mistério não passaria. Algumas são nuvens tempestuosas, outras escondem um céu azul por trás de si, e outras estão sempre nubladas - não confundir com tristeza. Ser nublado é simplesmente gostar da própria companhia em uma madrugada fria. Contudo, as nuvens possuem uma característica em comum com todos os seres orgânicos: O ciclo eterno de nascer e renascer

Defeitos

Um defeito é uma nuvem em nós, Não estraga nosso azul, Pode ocultar nossas estrelas, Mas nunca trair nossa beleza. O céu nublado é poético, O tempestuoso passageiro, O azul sempre alegre, Nossas nuvens nos completam. Um sonho é uma linha em nós, Que nos leva a algum lugar, Estudamos, choramos, vivemos… … Tudo por esta linha. (Um segredo: Outras pessoas podem criar linhas em nós. Existe alguma linha em ti a te levar para algum abraço?) Essa linha pode afinar, Esticar-se, parar de brilhar, Ou ser esquecida por um tempo, Porém, ela nunca se quebra. (Outro segredo: Essas linhas, vão além do céu atravessando nossas nuvens. Tente deixar seu céu azul) Emoções são luzes em nós, As negativas nos escurecem, As positivas, além de nos acenderem… … Faz nascer a esperança. (Um último segredo: O verdadeiro amor energiza nossas linhas e ao atingir o céu… Nos transforma em nascer do sol. O amor é a última quintessência). L.A.

A Cidade Mais Calma do Mundo

Angarsk, 1986. O bosque denso envolvia a cidade com árvores que pareciam observar quem ousasse deixar Angarsk. Todas as manhãs as chaminés de cada casinha suspirava café da manhã. Os habitantes, em sua maioria, eram idosos e todos se conheciam, não intimamente, as pessoas de uma cidade gélida tendem a ser reservadas. O frio encolhe e por vezes reprime sonhos e encontros. A cidade não tinha grandes empresas ou shoppings centers imensos. Viviam da pesca e do que conseguiam encontrar. Não aconteciam grandes conversas na praça principal, nada além de inúmeros “bom dia” e “boa tarde”, raramente um “boa noite”, pois a essa hora ninguém caminhava pelas ruas. As 23h00m, pela primeira vez nos mais de mil anos de idade desta cidade, um grito forte e agudo despertou do coração do bosque e envolveu as ruas vazias, as moradias foram aos poucos invadidas: As pessoas que ficavam próximas do bosque tentavam colocar a cabeça de baixo do travesseiro sem sucesso, as do meio da cidade também, poré