Trechos de uma história sem fim

“Devo eu descrever o amor sem nunca o ter vívido? Não, escrevo sobre as flores, pois são o que lembro da minha infância. Flores, não amor, apenas flores.”

Era essa frase que Lúcio repetia para si mesmo sem entender o valor de seus pensamentos. Os anos marcam o passado, e a cada ponteiro o sabor do beijo dela some de seus lábios. Não é esquecer que machuca, mas lembrar todos os dias que está esquecendo. Uma parte da sua consciência luta para manter as memórias. A noite seu coração cria garras e segura cada lembrança até sangrar. Até o fim.

O centro do seu peito se transformou em um bueiro entupido, impossível distinguir se ele sofre de Sopro ou de aversão ao seu próprio coração partido.

Cada passo pela floresta lúgubre a sua frente, ao seu redor, atrás de si, seus olhos se fecham, tão escuro é seu caminho quanto é dentro de si. Não faz diferença. Nunca fez. Desde sua infância no orfanato, sua especialização é criar personagens. Para cada situação, ele possui um outro eu, para esta em particular: O Poeta. Sem medo da escuridão, porque poetas se tornam a escuridão ou qualquer coisa que seja preciso para se adaptar. Inclusive uma noite sem estrelas ou uma pétala separada do broto. Poetas são, em essência, camaleões da existência.

Seu sonho mais íntimo e secreto - oculto nas sombras de sete poemas - é viver um amor, não precisa ser grande, mas não deve ser pequeno. Uma aspiração estranha para um homem que perdeu seu coração. Fechou-se, não entra mais emoções, não escapa mais pedaços do seu mal me quer bem me quer. Antes seus dedos tocavam o infinito, agora a luz das suas rimas foram absorvidas por um buraco negro: Ela. Sua última paixão tratou de costurar cada abertura do seu peito para nenhuma outra mulher futura pudesse espiar por fendas luminosas de seu coração de mil Poetas. Porém, Lúcio não desisti. E se encontrou quem soube fechar, encontrará dedos que saibam abrir e beijos por onde caminham os anjos.

L.A.