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Mostrando postagens de dezembro, 2016

Memórias de um Poeta

Dezembro, 2016. Fogos vermelhos subindo e terminando no ar, próximos da terra, mas distantes do céu. Os prateados conseguem ir além e encontram seu fim brilhante nas nuvens, imitando estrelas cintilantes feitas pelo homem. O cheiro de pólvora, a euforia nas ruas, pássaros assustados no céu procuram algum abrigo, cachorros atordoados com ou sem donos – a Natureza não compreende, pois nenhuma das estações completa seu ciclo dia trinta e um de dezembro. Mas alguém em 1532 achou que seria uma boa ideia e assim é. Quando criança eu adorava as bombas barulhentas e os fogos que voavam. Os que explodiam faziam eu me sentir mais próximo de um poder além de mim mesmo, era incrível observar algo acendido por mim tendo uma reação imensa, e os outros era como se fizessem eu voar, como se me carregassem em suas paletas e depois explodíamo-nos para sempre, definitivamente. Dezembro era um mês de experiências químicas simples. Sem mencionar os muros que ficavam em pedaços, afinal para que muro

A.G.

Ela é um dente de leão Se assoprá-la com carinho Ela se dissolve no ar Brisa do Leste, nasce no amanhecer Posso jurar: já vi nuvens formando A íris do teu olhar  L.A.

Memórias de um Poeta

São Paulo, 2016. Respire, não esqueça jamais de respirar. Não odeie ninguém, mesmo se o motivo parecer absoluto. Faça o bem sem olhar a quem e também ao próprio umbigo. Não importa se você não tem bilhões para exterminar a fome da África, muitas vezes um abraço faz terminar a fome da alma. O bem é simples e sincero. Sofra quando convier, não reprima raiva ou lágrimas, jamais. Mas não se entregue aos sofreres sem sentido que não possuem caminhos quaisquer. Os demônios existem primeiro dentro da gente, não tenha vergonha de si mesmo, pois os anjos também estão em nós. Se não souber para onde ir siga as emoções mais puras do coração, pode não ser a verdade do outro, mas se pulsa em seu peito é a sua verdade. E por fim: Viva cada dia sublimando os próprios sonhos. L.A.

Una

Uma flor sobrepondo outra flor Oculta num jardim de essências Nas raízes do calor e do amor O olhar por trás do Hibisco Traçando um rabisco invisível: De poemas e emoções sutis Tua inteligência atrás da ciência: Um sabre de luz com sua luminescência: Também ilumina e defende o coração Vermelho teus fios: chamas em tua coroa Segredos em cometas numa mulher estrelar Como rimar a órbita do seu olhar? Luna do país das maravilhas Leve e pura espelhando sua senhora: A doçura das flores mora em seus lábios? Ela fecha os olhos e dança imóvel com o ar Brinca no carrossel ao sorrir e transpirar emoções Porque sua pele está sempre florindo sensações Constelações pinceladas no narizinho Suas dores sempre se tornam esperança? Ela é confundida com a raridade dos beija-flores Transforma lágrimas em mel para a fé As noites recolhem o pólen dos teus sorrisos Dorme aquecida e arrepiada por sonhos Ela não termina onde acaba o corpo, não! Pois sempre se rende ao seu própri

Sonhar

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- Onde eu estive? - Você não lembra? Passaram-se mais de oitenta anos... - Parece que foi ontem, quando eu dormi. Lembrou-se de tudo ao abrir os olhos completamente: Seus oitenta e seis anos em Sonho, em vida. Recordou da vibração da placenta da sua mãe quando alguém colocava a mão na barriga e a parabenizava. O esforço gigantesco para dar os primeiros passos com seus pezinhos desengonçados, a primeira palavra, no caso dele "Magia". O primeiro sorvete preferido de tantos outros que viria a saborear. O primeiro desenho rabiscado do que deveria ser um Mago e seus cinco dragões elementais. A primeira palavra escrita: Amor, de bilhões de outras que viria a escrever, rimar e harmonizar como Poeta e Escritor. Das primeiras paixões escolares que sempre o fazia esquecer da primeira palavra que escreveu. Da primeira conclusão absoluta de sua vida: Só sei que nada sei. Os anos passaram feitos olhares desencontrados: Voltando jamais. Ele não percebeu que o Tempo não volta, pois se

Memórias de um Poeta

São Paulo, 2016 Não é um local propriamente dito, não pode ser alcançado com esforço físico ou mental. Neste lugar não há formas, apenas luz. Não há ideias ou pensamentos, apenas emoções, não sentimentos. Emoções transbordam o corpo, sentimentos são agudos. Nesta esfera, onde os anjos são nossos vizinhos e os deuses caminham em cada Caminho, despidos de qualquer misticismo ou sigilo: Apenas são. O som tem um papel muito importante neste longínquo tão perto lugar: Os passos dos deuses provocam terremotos silenciosos, pois aqui o silêncio vibra melodias inaudíveis e irreproduzíveis e o canto dos anjos fazem tremer as linhas que sustentam o Branco. Acima está Deus, O Grande Espirito, A Dourada, A Última Parada e mesmo deste degrau é possível apenas contemplar um cílio do Seu imensurável olhar, mas é o suficiente para começar a compreender toda a Criação. Não há vontade, de minha parte, de ficar aqui. Porque não pertenço, ainda, e não possuo Casa, minha alma colocou apenas um tijol

Memórias de um Poeta

França, 2049. Elas parecem terem sido feitas por abelhas espirituais antes da Vida: Banhadas em suas doçuras inalcançáveis, com o sabor da loucura e do prazer líquido. Caminham sempre mais rápido que qualquer homem bobo ou iludido. E mesmo os que conseguem tocá-las ou cantar palavras com infinitas intenções rasas, não conseguem, por puro desespero, passar da superfície delas, não: Não sabem saborear. Não possuem sensores gustativos no espírito. Porque a paixão queima os pensamentos, os tornando cinzas negras inúteis, mas o amor transcende qualquer ideia, criando referências emocionais que superam qualquer emoção anteriormente vivenciada: O amor é uma experiência espiritual, livre de apego e falsas essências mentais. Por isso são tristes ou limitados – sem ter consciência disto – os que nunca amaram. Todas as memórias deste mundo possuem traços femininos. Elas estão em todos os lugares, cativando o ar que respiram movimentando o ventre ou o Sol e a Lua que brilham ocultos no hor

Trechos de uma história sem fim

Ao encontrá-la teve que mordê-la para verificar se era de ouro ou de chocolate, se existia. A mordida revelou que em parte, ela era de ouro, pois além da existência comprovada, não era uma imagem originada de esquizofrenia, a pele tão macia que ele teve que rogar a Deus se ela era divinamente possível. Em contrapartida, também era de chocolate, com a ponta da língua ele sentiu uma doçura inexplicável. Ela trabalhava por mais de sete horas diárias numa fábrica de açúcar, as gotículas refinadas prendiam-se por toda a sua pele. Esse é o melhor trabalho do mundo para uma mulher - ele concluiria dias depois ao descobrir a ocupação daquela que ele jamais esqueceria, mas não passaria de uma mordida, não chegaria próximo de um beijo, nunca. Ela não sonhava com o amor, e não sorriu com a súbita mordida, deu-lhe um tapa e ele teve que a seguir para descobrir sua rotina e seus segredos, e continuaria em sua espreita por longos anos de contemplação. Até o dia em que ele descobriu um câncer na

O Jovem Poeta - Infância

Rússia, 1913. Descobriu que os desejos por beijos intermináveis era sua inspiração infinita se contorcendo para materializar-se e transmitir os versos de poemas que são escritos apenas com a ponta da língua. Então, pôde contornar os precipícios de sua própria loucura e chegar mais cedo do outro lado do Abismo. Tomou consciência de seus próprios limites estéticos depois de perguntar, durante a aula de filosofia, para sua paixão platônica se os feios merecem o amor, e receber uma resposta clara que surgiu no ar mais como uma flecha do que uma sílaba: -Não. Ela nunca praticou arqueirismo, mas acertou precisamente no centro do coração de Lúcio. Essa maestria com flechas emocionais só poderia existir numa donzela de tempos medievais. O que o fez concluir, durante os intermináveis discursos do professor de Filosofia, que a Verdade não existe na mente e sim no coração. Teve que respirar fundo e segurar o ar com todas as suas forças pulmonares para aquela flecha não destruir sua

Memórias de um Poeta

Rio Grande do Sul, 2061 Eu costumava imaginar uma mulher misteriosa aparecendo de repente em minha vida, em qualquer lugar, a qualquer momento. Ao ver-me cancelaria todos os compromissos e pensamentos para aquele dia, e eu também faria o mesmo, numa espécie de telepatia mútua. Sentaríamos em algum lugar tranquilo, conversaríamos sobre todas as filosofias e riríamos juntos de como elas nos fazem pensar demais quando a verdade é uma emoção. Choraríamos de rir da ironia mental dos humanos. Confessaríamos nossos segredos mais profundos, sem julgamentos ou repulsão, refletindo sobre como os segredos criam barreiras entre os casais, sobre os sonhos não conquistados e os que nos fazem sorrir até os dias de hoje, sem o ego, sem tentar impor no outro nosso orgulho raso e ilusório. Faríamos carinho um no outro, sem pensamentos maliciosos, explorando a carência do outro, os desejos reprimidos e os nunca expostos. Ela cantaria para mim numa voz angelical errando letras por conta da tim

O Jovem Poeta

Rússia, 1914. O orfanato estava mais gélido naquela madrugada de ventos invernais. O inverno mais frio desde 1867. As 00h01m Lúcio completou dezessete anos. Apenas ele sabia, apenas ele lembrava-se, não por alegria de mais um ano naquele inferno, mas por uma sombra que o cercava todos os anos, neste dia. -Ela chegou - disse baixinho. Não havia luz no quarto, a mínima claridade não fazia jus a sua poesia. Porém, era possível enxergar a sombra movimentando-se na escuridão absoluta, como se sussurrasse no silêncio de suas formas: Feliz aniversário, Lúcio. Ele não temia o escuro, escrevia nele seus poemas mentais que desapareciam no ar, para sempre: os poemas não direcionados a ninguém, os mais tristes.  Levantou-se da cama lentamente para não acordar alguém, não por compaixão, odiaria uma companhia naquela noite. Anos mais tarde, Sophie seria a única a compartilhar suas madrugadas com amor. Mas nesta época da vida dele, tudo que conhecia era a solidão. Lúcio nunca precisou d

O Jovem Poeta – Infância

Rússia, 1911 De repente, após semanas tentando controlar as comportas da sua alma, a barragem de Lúcio rompeu-se: A inspiração começou a vazar pelos olhos: uma imagem não era mais apenas uma imagem, mas um mar de ondas nervosas repletas de memórias, pessoas e amores. Pelos os ouvidos: Cada som, por mais banal que fosse, a empregada abanando os lençóis da cama, o borbulhar da comida cozinhando, a lavagem de panelas e calçadas, tudo transformava-se numa sinfonia, numa opera cuja o maestro era a Vida. Pela boca: cada palavra possuía o mesmo poder de criação que atos, cada palavra sua, dita naquele momento, poderia levar qualquer coração humano ao céu ou à escuridão. Pelo nariz: Os cheiros de donzelas, de batata frita, de frutas maduras, todos eram importantes e vívidos. E por não ser suficiente, começou a sair por todos os poros do corpo. Quem passasse ao lado dele, sentia-se inspirado por pura ressonância energética. Quem ousasse conversar com ele teria poemas atormentando suas ment