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Mostrando postagens de outubro, 2016

Trechos de uma história sem fim

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Ao fim de uma tarde de Primavera, ao som de solos de piano silenciosamente enlouquecedores, lembrei do seu sorriso que nunca vi e do seu cheiro preenchendo minha imaginação, porque mil e uma espécies de rosas desconhecidas deste e de outros mundos não constroem em mim as nuances do seu cheiro encantador. Dos desejos corporais guardo a vontade em brasa de grudar seu corpo no meu e sentir o calor que rege sua vida e controlar a velocidade dos batimentos do seu coração com a intensidade dos meus beijos. Tocar as partes secretas do seu corpo, procurando pela quintessência do seu sabor sobre os gemidos da sua loucura forjados pelas minhas fantasias antigas e recém-criadas. E neste jogo de desventuras trocar de posições como quem troca de alma, queimar suas roupas num calor de sessenta e nove graus. Conhecer a maciez da sua pele, navegando por suas curvas marítimas imprevisivelmente sedutoras e tempestuosas, te atingindo com ondas de prazer e ser afogado em sua maré de entrega e perdição.

Trechos de uma história sem fim

A floresta escura é sua única amiga, as árvores ressoam seus galhos e a escuridão se movimenta formando rostos e letras. Mas Lúcio não sente nada além de inspiração. Poemas exalam dos seus poros, substituindo o suor por poesia. Os pernilongos se afastam, os corvos e corujas pousam em seus ombros. Entre folhas emburacas ele consegue ver as estrelas, como laços rompidos há muito tempo que deixaram de brilhar, crescem e apenas marcam uma falsa existência. O coração de Lúcio está sempre vibrando uma energia ancestral, velho demais para este mundo, novo demais para a vida. Não são os Poetas uma incógnita sem resolução? Lúcio sente poemas das cascas das árvores, no bico da coruja em seu ombro, nas trevas brilhando no olhar do corvo, nas cicatrizes da lua, no cheiro de noite com mato molhado, nos sons sobrepostos de centenas de insetos e dezenas de animais, no movimento das folhas novas, maduras e descascando no chão. Tudo, ao mesmo tempo formam a dualidade da plenitude poética ao redor

Trechos de uma história sem fim

Os pelos do corpo são feitos com pétalas angelicais, quando ela se arrepia, é possível sentir plumas translúcidas ao seu redor, ela flutua, perdidamente, com as asas da imaginação. Sempre tão distantemente presente, ela é um paradoxo causando dúvidas no universo. Ao sorrir – de verdade – suas narinas se mexem, então se ela sorri, todos ao redor sorriam também, certos aspectos na personalidade dela marcam na memória, como se ela absorvesse todas as nuvens do céu. L.A.

Trechos de uma história sem fim

Os lábios dissolveram minha essência, Olhar carente, pele sobre mil poros desnudos, Suavizando meus dedos, desejando, Mas apenas em minha imaginação. Três minutos depois, ela se foi... ... para sempre. Não reconheci sua voz, Nunca conhecerei sua voz. Muda... ... em minhas memórias. Entre as linhas da realidade, o corpo era música, Vibrando, e tocando uma melodia invisível... ... inaudível para os humanos, perpétua em meus sonhos, Perdendo-se no infinito do acaso. Enquanto o metrô sumia no negro túnel, Um eterno pôr do sol. Senti nossos laços platônicos... ... desfazerem-se, quentes e coléricos. Quem era você? L.A.

Trechos de uma história sem fim

Ela estava triste naquele dia, seus olhos estavam secos de melancolia, febris. Os lábios rosados terminavam entre as montanhas ocultas de reinos encantados, formavam a última estação do Desejo, onde humanos não colocam os pés, sonhos ou esperanças. Em suma, seus lábios criavam um abismo entre os mortais e a imortalidade da sua beleza. Ela não é perfeita, mas suas imperfeições se conectam entre os dedos de um Poeta e o calor de um abraço distante, interminável, além das possibilidades de qualquer sonhar. Ela é um ser natural. Ela está partindo agora, desencontros – a essência da vida. Desapego – a eterna prática da existência. Aos poucos, sua beleza se desfragmentará do meu hipocampo. Mas a imagem e o som apaixonante do seu sorriso permanecerão eternamente pulsando na memória interna da última camada do meu coração, num eterno Samsara aonde as lembranças reencarnam. Adeus. L.A.

Trechos de uma história sem fim

Jasmim era a flor mais rara de todo o jardim, ela fixava seus brotos na direção do sol, mesmo sem ser um girassol e conseguia crescer em meio ao lodo, mesmo sem ser uma flor de lótus. Ela não conseguia expressar seus sonhos, mas estes sempre estavam nítidos em seu olhar - pulsavam com um brilho singular, seu olhar-labirinto: Qualquer um se perdia em sua imensidão. O som do seu sorriso dela transformava o coração das pessoas ao seu redor – as que reconhecem ela como infinita – em casinhas de beija-flores. Pois quando ela sorri abelhas invisíveis criam o mel da vida, o mel da alegria. Temporadas de harmonia em prol da Primavera. A cada cinco minutos uma graça brota das suas pétalas de criatividade, os outros não acham nada daquilo interessante: Imatura – pensam. Mas ao olhar de um Poeta toda graça se manifesta na inocência de simplesmente ser feliz. Imaturidade é sinônimo de tristeza absoluta, e não de ser ela mesma: Feliz, apesar de todas as circunstâncias tentando enfiá-la no

Trechos de uma história sem fim

Dr. Fábio era o melhor dentista de Vladivostok, até conhecer sua nova paciente, Carina. Ele é gordinho, usa óculos fundo de garrafa e tem uma boca engraçada. Decidiu ser dentista para ajudar as pessoas a terem uma vida social mais saudável: Um belo sorriso abre até as portas do inferno. Mas ao passar dos anos percebeu que as crianças tinham medo dele, as mulheres o olhavam com nojo e raramente retornavam. Porém sempre havia homens no consultório, em grupos de amigos, faziam piadas com a aparência do Dr. Fábio, ganhava dinheiro com sua própria desgraça.  Carina chegou pela primeira vez em um desses dias comuns, perguntou a sua mãe porque as pessoas estavam rindo baixinho no consultório. -O médico tem uma feiura engraçada, filha. -O que é feiura, mãe? Carina é cega desde nascença, portanto não criou um conceito de beleza, embora muitos deficientes visuais criam, com as palmas da mão. Ela prefere colecionar traços. -Existem apenas pessoas diferentes – Carina sussurrou baixinho.

Trechos de uma história sem fim

Lúcio tinha dezesseis anos quando sua visão poética começou a ampliar-se, as imagens transformavam-se em sensações e sensações eram processadas em palavras, por isso, ele sempre foi bom em tentar definir o indefinível. Sentia-se inspirado vinte e quatro horas por dia, mas a noite era mais intenso. Em sua visão pássaros são minúsculos pontos banhados em vida natural que conseguem voar e desenhar a liberdade no céu. O vento, um lençol freático sutil e imensurável cobrindo quem ele abarca em seu poder de trazer-nos para o presente. O simples ato de caminhar e sentir a rigidez do chão fundido com o simbolismo de estar indo a algum lugar ao mesmo tempo em que se parte de outro, transmutava uma simples ida ao mercado em um ato de desapego. Porém ser um Poeta era sentir tudo isso ao mesmo tempo e ter a força para organizar milhões de sensações, extraindo a quintessência: Um poema, uma crônica, um livro. Escrever é um ato alquímico. Apaixonar-se era quase como um suicídio. Já era intenso de

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Carina gostava de ir ao dentista, apaixonou-se pela forma que o Dr. Fábio cuidava da sua boca. A cada dois minutos perguntava se ela estava sentindo dor, isto não a irritava, sentia-se abraçada, cuidada diante de toda a escuridão da sua vida. Carina era cega. Às vezes Dr. Fábio tocava a pele do seu rosto sem a luva plástica e fria, Carina sorria com esses momentos. Ela sentia o sabor de flúor muito mais intenso que outros pacientes, era de Morango, assim, entre os intervalos das consultas, comia morangos todos os dias. Iludida pela paixão, não percebeu que perdia um dente a cada ano e não conseguia ver o olhar de preocupação do Dr. Fábio. E seus conselhos para Carina higienizar melhor a boca não eram devidamente ouvidos. Dez anos se passaram desde a última vez que foi ao dentista, está banguela e se recusa a usar dentaduras ou implantar dentes postiços, tem vergonha, pois evitava escovar os dentes para sentir as mãos do Dr. Fábio com mais frequência. Após uma complicada cirurgia,

Trechos de uma história sem fim

Aos quarenta anos, Juvenal era o homem mais inteligente do Estado de Louisiana, dez anos seguidos em primeiro lugar em testes de QI. Leu de Platão a Shakespeare, e deste a Stephen King. Também era versado em Matemática, tendo formação em Economia, Literatura Inglesa e Francesa. Conseguia se comunicar em oito línguas diferentes, e nas horas vagas tocava como pianista no bar da cidade. Por que? Por que tudo isso? – Ele começou a se perguntar, na véspera de seu aniversário. Sentia que não sentiu nada em sua vida por ser ateu, não religiosamente: Juvenal não acreditava no amor. E o amor é uma espécie de divindade. Consegue falar fluentemente oito línguas, mas paralisa-se ao tentar falar com o coração. Sente, subitamente, pensamentos intrusos nunca pensados antes: Perdeu 80% da essência dos poetas franceses, pois Juvenal entendia as palavras, porém não as sentia, e sem sentir não há compreensão. Shakespeare escapou da sua memória, porque sem emoção não há fixação. Memórias vazias, cont

Trechos de uma história sem fim

Os olhos dela são pontes que atravessam as dimensões do espaço tempo: Perco-me na Magia das pupilas. E quando a íris é direcionada para mim, sinto-me mergulhando num mar de estrelas multicoloridas que matam a sede das borboletas vivendo em meu estômago. Os cabelos em seu estilo ancestral preenchem a tonalidade do rosto formado pelas lágrimas de felicidade de fadas e sereias. Os traços pincelados pelo senso artístico dos anjos alteram a realidade com sua beleza. O pescoço dela possui uma força magnética para beijos lentos: As gotículas do seu cheiro de mulher viajam como estrelas cadentes ao seu redor, nenhum humano conseguiria fazer tantos desejos. Os dedos dela gostam de brincar com o fogo, acompanhando o movimento das chamas alaranjadas e seus braços criam com danças inconstantes: Emoções profundas, sentimentos passageiros e memórias guardadas em algum lugar entre a alma e o coração. Enfim, sem um fim propriamente revelado: Ela caminha sabiamente, cada passo é medido sem pre

Trechos de uma história sem fim

Era uma noite fria de Outubro, as ruas suspiravam mistérios para quem possuísse ouvidos para ouvir. -Até os espíritos estão com frio esta noite - disse um homem, anunciando sua chegada no bar.  Todos olharam para aquele misterioso homem, ninguém nunca o tinha visto antes. Era um ser humano completamente estranho, naquela cidade desconhecida por 99% da população da Rússia.  Oculta pelas imensas montanhas e protegida por um frio mortal, como se o vento gélido e as nuvens brancas tivessem consciência daquela cidade. -O que o traz aqui, forasteiro? O estranho apenas fixou seu olhar nos olhos febris do questionador. Sem dizer nada. Parecia enxergar toda a alma do habitante hostil. Em cada suspiro do forasteiro, era como se ele arrancasse as memórias do senhor de idade, bêbado. Talvez foram os quarenta graus de febre, mas depois de longos segundos ele arrependeu-se amargamente de ter perguntado, pois enxergou no homem de preto, asas brancas banhadas em uma energia mística. -Memó