Trechos de uma história sem fim

Lúcio tinha dezesseis anos quando sua visão poética começou a ampliar-se, as imagens transformavam-se em sensações e sensações eram processadas em palavras, por isso, ele sempre foi bom em tentar definir o indefinível. Sentia-se inspirado vinte e quatro horas por dia, mas a noite era mais intenso. Em sua visão pássaros são minúsculos pontos banhados em vida natural que conseguem voar e desenhar a liberdade no céu. O vento, um lençol freático sutil e imensurável cobrindo quem ele abarca em seu poder de trazer-nos para o presente. O simples ato de caminhar e sentir a rigidez do chão fundido com o simbolismo de estar indo a algum lugar ao mesmo tempo em que se parte de outro, transmutava uma simples ida ao mercado em um ato de desapego. Porém ser um Poeta era sentir tudo isso ao mesmo tempo e ter a força para organizar milhões de sensações, extraindo a quintessência: Um poema, uma crônica, um livro. Escrever é um ato alquímico.
Apaixonar-se era quase como um suicídio. Já era intenso demais concentrar sua visão poética em tudo ao seu redor, em uma única pessoa era como transpor sua consciência para o infinito, pois somos estrelas sem fim: Para sentir e processar apenas a forma que ela caminhava era preciso transmutar chumbo em ouro dentro de si. A imagem queimava, a imagem rimava e diferente de um filme poético, a vida não tem pause.

L.A.

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