Memórias de um Poeta

França, 2049.

Elas parecem terem sido feitas por abelhas espirituais antes da Vida: Banhadas em suas doçuras inalcançáveis, com o sabor da loucura e do prazer líquido. Caminham sempre mais rápido que qualquer homem bobo ou iludido. E mesmo os que conseguem tocá-las ou cantar palavras com infinitas intenções rasas, não conseguem, por puro desespero, passar da superfície delas, não: Não sabem saborear. Não possuem sensores gustativos no espírito. Porque a paixão queima os pensamentos, os tornando cinzas negras inúteis, mas o amor transcende qualquer ideia, criando referências emocionais que superam qualquer emoção anteriormente vivenciada: O amor é uma experiência espiritual, livre de apego e falsas essências mentais. Por isso são tristes ou limitados – sem ter consciência disto – os que nunca amaram.

Todas as memórias deste mundo possuem traços femininos. Elas estão em todos os lugares, cativando o ar que respiram movimentando o ventre ou o Sol e a Lua que brilham ocultos no horizonte, na pele, seja de qual cor for: Pôr do sol ou amanhecer. Espalhando perfumes naturais ou artificiais, como rosas vivas sonhando com dias melhores, pois elas também passam por tristezas, alegrias, decepções e harmonias depois das tempestades: Elas vão para a Aurora, enquanto os homens observam incrédulos os novos sorrisos perdidos: Mulheres se renovam todos os anos, guiadas por intuições sem fim e corpos narrados com os movimentos da dança do ventre.

Quando começam a atingir os ápices da idade, precisam cuidar deles: Homens velhos se transformam em crianças sem chupeta e mamadeira ou fulguram numa raiva calada que insiste em explodir de tempos em tempos. Elas, as mulheres, descobrem algo misterioso com a sabedoria ingênita das décadas, segredo este invisível para eles: Perdidos em lamúrias e em uma solidão que somente a velhice compreende. Em suma, mulheres nunca envelhecem, apenas passam, lentamente para o outro lado, enquanto os homens permanecem aqui, sonhando com as estrelas mortas de tempos imemoráveis – insistindo em morar nos segundos que passaram, e não nas novas flores que nascem.

L.A.

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