Das Coisas Inorgânicas.

Tudo muda, todo o tempo: O sal nas lágrimas, o formato dos dentes num sorriso, o sabor do queijo preferido, a intensidade do amor, a amplitude corporal da dor, a condensação dos laços de amizades, o olhar destemido, o olhar sozinho na escuridão, os átomos de uma flor murcha, a matéria distante - morta - das estrelas, a indiferença do vento, as nuances do desejo vazio, as pessoas ao redor das expectativas, nossas pessoas interiores aquecidas por fogueiras de decepção e carinho, os sonhos tão fixos tornando-se macios e então nublando momentos ocos. 

Entre mudanças perdemos chaves mentais e objetos plasmados por amores e obsessões, a memória relapsa - tão curto são cem anos - assemelha-se a uma rede de pescar com furos maiores que qualquer mamífero do mar, mas não tão grande quanto o coração: lar de moscas e anjos. 

A alma é o livro, o espírito a página. Do que é feito a capa do seu livro? Quantas páginas você tem na memória espiritual - inacessível aos humanos e a onde os Magos dançam. Nada disso importa, livros são de éter, luz astral, centelha divina, qualquer coisa que sirva de gasolina às engrenagens das sete dimensões acima e abaixo. 

Tudo muda, todo tempo: a vibração do que você busca, as curvas do Caminho, as pedras: não em botas, nas solas do pé, a voz que um dia ousou dizer: Eu te amo, os traços do ódio rogado a qualquer um, o soco no ar imbuído de apego pela partida dos que nunca estiveram aqui, as fotos antigas que não servem para nada além de analgésico para o Tempo, e a luz apagando-se nas trevas, pois qualquer lugar pode servir de combustão instantânea.

L.A.


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