A Musa Passageira


Do vidro o Poeta a olhava, a admirava enquanto a respiração dissolvia a fumaça do café quente, baixinho, ele sussurra sem pausas:
-O sol entre passa em seus olhos trazendo ao meu olhar a reminiscência de um sentimento distante. Qual será teu nome? Deusa de pele branquinha... Dê-me teu nome e com ele escreverei mil poesias!
A mulher parou na frente da cafeteria, olhando para o outro lado da rua, tornando-se a ficar de costas para o jovem Poeta, o vento lá fora fazia flutuar seu cabelo.
Ao tomar um bom gole de café, ele continua.
-É o vento meu amigo de eras! Desliza ele sobre teus fios negros, apanha teu perfume e pela janela o traz a mim. Mas que cheiro de jasmim! Ô! Bela musa! Tu moras em um jardim? Ou seria você a própria rosa?
A mulher encosta as costas no vidro, colocando a mão direita sobre ele, para se apoiar, ainda distraída com algo do outro lado da rua.
-Pele... Seria tua pele macia? Com o odor dos magníficos cremes? 
Sem pensar, apenas movido pelo seu sentir, o poeta coloca sua mão no vidro, para tentar por ele, sentir ao menos o calor daquele corpo, de sua musa passageira. As duas mãos se encontram, por eternos 4 segundos - para o poeta. Por rápidos 4 segundos - para ela - que vira e segue seu caminho. A xícara de café está vazia. O Poeta voltou-se ao seu buraco sombrio, não sentia mais sua musa e por isso, não havia mais poesia.

...Lucas Augusto...

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