Quando se pretende falar de amor

Logo quando comecei a sofrer, você me ensinou o que é amar, já estávamos velhos, não havia mais aquela beleza a qual eu pensava que você tinha se apaixonado, ao nascer das rugas, ao envelhecer do corpo, ao passar dos anos você me amava cada vez mais. Eu sentada sob a varanda olhando para o vazio do horizonte, todos os dias, o horizonte ganhava um ponto marrom, que ficava maior a cada minuto, era você vindo em minha direção, apenas me ver, saber como eu estava, beijar meus lábios já secos por conta da idade, mas você cismava em dizer que era os melhores lábios que alguém poderia beijar, depois voltava a andar em direção do horizonte. (Ele nunca deixou de trabalhar, e no meio do espediente vinha até em casa para me ver, dizia que era revigorante tocar a boca da consciência do amor) A noite, quando retornava, ficávamos abraçados na rede, olhando para a lua e ouvindo os cantos das corujas do serrado.
Você sempre soube dos meus segredos,e eu dos seus, brincávamos com nossos defeitos, porque não ligávamos para eles, tudo que importava era nosso Amor, em minhas andanças pela cidade, me contaram que você sempre falava de mim para todos, de como me amava e como eu era tudo que um coração poderia amar, me emocionei com um caso especial que me contaram, no qual uma mulher da cidade grande, toda perfumada, loira, cantou você no bar, descaradamente, estava de decote e saia, e era bem mais jovem, e todos do bar se emocionaram quando você disse:
“Não quero saber de seu corpo, ou seus desejos por mim, lá em casa, na varanda de meu barraco, está o corpo mais sutil e lindo que uma alma poderia um dia chegar perto, você com esse charme barato, não tem coração, e mesmo que tivesse, meu coração já é inteiramente ligado e apaixonado, pela mulher de todas minhas vidas, Juliana”
Hoje você se foi, não fico mais na varanda, esperando você dizer todos os dias que meus lábios são únicos, não fico mais chorando de emoção por ter encontrado você, não fico reclamando da minha idade, porque você me ensinou a não ligar para minha idade com seu amor que só cresceu depois de cada ano adicionado em meu corpo, ainda escuto sua voz em meu ouvido dizendo:Vamos fazer amor essa noite? Mesmo quando não tínhamos mais pique para cair sob a cama, você continuava a falar isso todas as noites em meu ouvido, mas em vez de cair sob a cama, você me dava um beijo na testa, e não importava se estava escuro, se tinha lobos uivando, se o mundo estava em guerra, se eu estava com fome porque não havia comida, se estava doente, se eu estava gripada, com seu beijo doce em minha testa eu dormia como nunca poderia dormir sem seu beijo.
Você me ensinou a fazer amor com um beijo...
Agora eu que vou todas as tardes no cemitério, dar um beijo em sua lapide, não pense que é triste, pois não é, sei que ali está apenas o seu corpo, vou lá apenas para ficar perto dos lábios que me ensinaram a amar e do coração que me amou, sua alma, eu sei está sempre comigo, esta sempre nos meus sonhos.

Yanos Talesin