A Garota da Saudade

Todos os fatos aqui relatados são de extrema sinceridade.

Mauá, 21 de Maio, 2012.

São quase meio dia e meia, dificilmente me importo com o relógio, mas daqui alguns minutos verei minha amada, digo, minha amiga e meio dia e meia é a hora que o sinal de seu colégio toca anunciando a saída.
Muitas pessoas estão aqui esperando alguém, há uma garota com pernas expostas e olhar concentrado no portão, levando a atenção de muitos homens a ela, infelizmente – para ela – meu olhar consegue apenas se jogar no possível futuro de alguns minutos, assim como meu imaginar.
O sinal bate, não sei o porquê, mas uma alegria tenta, sem sucesso, invadir minha alma, não sou eu que estou saindo do colégio, porque sentir-me-ia alegre?
Por ter uma boa observação, facilmente consigo passar meu olhar de reconhecimento pelos muitos rostos que por aqui vagam e correm às suas casas - a garota de pernas expostas está a abraçar um amiga que saíu do colégio. Lastimosamente não vejo quem eu quero ver, decido então, esperá-la no cruzamento da avenida que ela mandara esperar. Porque fui a esperar onde não pediu? Eu queria vê-la toda espontânea ao sair do colégio!
Vindo do outro lado da rua, misturado com outros sons e vozes, ouço meu nome.
– É ela me chamando! – penso, enquanto um sutil sorriso molda meus lábios.
Andando calmamente vem até mim, observo-a, interiormente de boca aberta, toda a leveza de sua beleza – que nunca canso de apreciar.
Não estou delirando de vergonha ao lado dela, como outras vezes, hoje estou intenso, rapidamente – e naturalmente – puxo assunto. Minha boca está hoje a refletir facilmente meus pensamentos e sentimentos.
Cruzamos a avenida, quando ela pergunta-me de onde tiro tanto dinheiro, confesso que tenho uma galinha que bota ovos de ouro. Pela primeira vez ao lado de uma pessoa, eu estou inteiramente no momento, estou todo aqui, neste tão bonito instante. O mundo ao meu redor deixa de existir. O sol provoca transparências na camisa dela e, reflete-se em seu cabelo, tornando-a reluzente por completo.
Primeiramente vamos a uma loja de produtos de beleza, ela esquecera sua pasta que guarda seus desenhos – que tanto adoro, ela desenha com sua essência, poderia eu permanecer a observá-los e senti-los por dias e dias, sem cansar.
-Preste atenção no clima da loja, um clima de tédio... – ela diz.
-Sim, já raparei, é uma loja sem sal.
De longe já sentia a loja. Ao entrar tratei logo de procurar câmeras, se a mulher disser que não pode ajudar, a aconselharei a usar as câmeras de segurança, e insistiria até o fim, inventaria até leis. Tudo para ver minha amada, digo, amiga feliz. Simpática, a mulher logo se lembra da pasta quando minha amiga – dessa vez acertei – fala sobre. Quando a pasta vai da mão da mulher a mão da dona verdadeira, posso ver os pedaços dos desenhos imersos em essência.
Logo senti a felicidade de minha amada, digo, amiga! Ao rever sua pasta perdida, fico feliz em segredo, por ela.
-Estou tão feliz que quero pular!
-Pule, pulo com você! – digo e olho ao redor, seria incrível pularmos juntos ali, naquele anto de pessoas adormecidas.
Paramos em frente da primeira entrada para o terminal de ônibus, conversamos sobre coisas nossas, depois de um tempo ela indaga-me:
-Onde fica seu ponto, qual ônibus pega?
-Fica do outro lado, Vila Mercedes.
-Então vamos entrar pelo o outro lado.
Aceito, quanto mais tempo passar com ela, melhor. Logo ela percebe que meu ponto e o ponto dela são próximos, adoro sua inteligência. Juntara moedas para pagar sua passagem, rapidamente tomo a sua frente – iria a deixar passar na catraca primeiro, sou um natural cavaleiro – e pago a minha passagem e a dela.
-Tome – diz erguendo sua bela mão a mim, para pagar-me pela passagem.
-Você pode usar esse dinheiro outro dia – penso.
-Não precisa.
-Tome então essa moeda, o Felipe – diz ela sorrindo.
Fico perplexamente paralisado por alguns segundos por este ato natural, engraçado e simbólico.
-Vou guardá-lo para sempre – digo sorrindo e todo bobo.
Ao seguir para o lado onde está localizado meu ponto, ela pergunta:
-Seu ônibus já está lá?
-Não...
-Quer esperá-lo comigo em meu ponto?
-Claro, desculpe-me é que não tenho o hábito de sair com amigos...
-Que triste – diz sorrindo.
-Mas já me acostumei – repenso – na verdade, não, não me acostumei.
Ao lado dela, e torcendo para seu ônibus não chegar, e totalmente despreocupado com meu ônibus que acabara de chegar, a faço rir, e ela me ensina coisas, raramente alguém que eu conheço pessoalmente me ensina algo, conversamos sobre coisas só nossas. Passado alguns minutos o bendito do ônibus dela chega, me despeço – querendo beijar sua bochecha – mas ela está com pressa, e quem não estaria? As pessoas logo se amontoam para entrar no ônibus. Ando e olho para trás, ando e olho para trás, e ela se vai... E eu fico preenchido por ela.


...Lucas Augusto & Yanos Talesin...

Comentários

  1. Seu talento é fascinante.
    Belas palavras, belos sentimentos, e linda a essência do conto!
    Parabéns!!!

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  2. Muito bom... cada vez mais me envolvo e sinto cada sentimento com alma. Parabéns meus queridos ^^

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  3. Talento* absoluto!

    Parabéns!

    "Não é talento, é apenas um sincero desabafo das emoções e sentimentos da alma. O problema é que quase ninguém entende."

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