Esperando o ônibus I

Velhinha de olhos esbugalhados
E observar assustado
O quê aflige tua alma minha senhora?
Caminha curvada - os anos pesam
Olha para lá e para cá - os pensamentos trafegam

Pele cheia de rugas - uma para cada ano vívido
Velhinha hoje, de corpo de vidro
Frágil e facilmente quebrável
O tempo fortalece apenas a alma...

Encosta no muro - se protegendo do vento frio
Corpo pequeno de tantos anos
Andar lento... Para quê pressa?
Está aqui há mais de 70 anos...
Já enfrentou muitos outonos...
Quando mortas, as folhas caíam
E tu, toda moça, ficava a pular em tantas folhas
Esperando o jovem que roubara teu coração
Passar...

Mas diga-me, ainda não entendi
O porquê de este olhar tão assustado...

Enquanto o ônibus não chegava
A senhora, permanecia atrás do muro
Com a cabecinha posta pra fora
Na esperança do ônibus chegar...
Embebida no horizonte...
Carregando teus tantos anos

Já correu
Já sorriu
Já sentiu
Já chorou...

E aos poucos, igual um sussurrar...
O tempo tirava sua pressa
Secava seus sofrimentos
Deixava suas lágrimas cair e não voltar

Finalmente, o ônibus chega
A velhinha sobe a minha frente
E se vai, com seus olhos assustados
E sua falta de pressa...

...Lucas Augusto...

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