Um Amor De Outono

Diz a lenda que o amor nasce apenas nos dias vindouros de Primavera. Porém, uma página perdida do Livro dos corações reformula todo o mito:  Em todas estações um grande amor pode florir.

A cada floco de neve que caía não congelava meu coração. Os mais céticos diriam que era apenas o sangue quente passando pelas veis grosas que existem por dentro de nossos peitos. Mas eu sabia, porque sentia, não era o sangue e não era o calor natural do corpo, era o amor. As árvores estavam despidas e os galhos secos, mas dentro de mim toda uma vida reluzia: Em sonhos, promessas e desejos.
Porque o amor possui a força criadora que gera universos e sonhos infinitos. Não digo aqueles sonhos que tentam alcançar as estrelas com sorrisos. Escrevo aqui, sobre o amor que se torna as próprias estrelas. E brilha... Brilha além do que podemos contemplar e enxergar.
O garotinho, todo carente, embebido em sua solidão. Ao se deparar com aquele esplendoroso sentimento, que a primeira vista parecia reciproco. Se tornou um cão esfomeado. Aliás, quem não se tornaria? A mercê das ondas da felicidade qualquer um se torna impulsivo. A vida não nos prepara para amar. Não sabemos como amar. E então somos fisgados pelo desconhecido que encontramos no olhar do outro.
Quando é uma simples paixão é fácil. Tem se apenas a vontade beijar, apalpar, elogiar, tocar. Quando é amor não... Há apenas uma certeza que se solidifica a cada segundo enquanto os dois olhares permanecem em silêncio... Nenhuma palavra precisa ser dita, o beijo não é uma necessidade... A existência da eternidade passa a fazer sentido. Porque antes todos tememos o eterno, mas quando se ama... A eternidade parece não ser o suficiente.

Parecia que naquele Outono eu iria fincar uma estaca direta para um caminho belo no futuro. Contudo, não foi bem assim, não sei nem porquê seria... Por que seria? E o mito continua...

O mesmo amor que nascer no Outono... O Outono separará. 

Não há mais brilho no olhar, não há mais sonhos grandes a beirar o impossível. Foram todos engolidos pelo abismo do abandono, da saudade e do silêncio longínquo. E esquecidos para sempre na escuridão absoluta. Mas talvez até na escuridão possa nascer um lírio.

... Lucas Augusto.

O Outono se foi, mas toda as estações já haviam sido tocadas, para o amor... Não há tempo, nem espaço.


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