A Falsa Partida


Vou-me embora assim sem jeito, num jeito particular que eu possa me acabar. Irei ao encontro de traumas infantis, à essência, a raiz de todo sofrer juvenil. Lágrimas ditas, mudas, irão sussurrar poesias obscuras. Sentimentos reprimidos, guardados com o fervor da falsa superação, finalmente irão, se libertar e voar. Exprimi-ei-me entre muros de sofrimentos estreitos. Tornar-me-ei louco para finalmente encontrar a lucidez. Perderei minha antiga voz por gritar surdamente nos ouvidos de meu amado travesseiro, a voz que era sua e insistia em contar seu nome aos quatro ventos, narrar estórias de nosso amor em épocas futuras, fantasiosas, cobertas pelo véu na ilusão. 

Ausentar-me-ei do amor que guardarei eternamente pelos seus lábios, por sua voz, pela sua maneira particularmente pura de ser, pequena estrela cadente, você. Direi aos personagens de meus livros, tão vivos, que você não é mais a fonte de inspiração que proporcionava vida a eles. Em cada parágrafo eles irão refletir e tentar compreender seu criador, sem sucesso. A criação raramente compreende o seu pintor. 

Em épocas vindouras... Em tempos que se aproximam lentamente. Escreverei livros com a essência pura que teve um dia nossa relação. Nunca serão suficientes, nunca chegarão perto de ser... Porque, meu amor, você sempre foi além de qualquer rima rica e pontos finais. Você iniciava parágrafos, lembra? Os pontos finais eram meus, e as virgulas eram os minutos que ficávamos longe um do outro.

Mas tenho que retornar... Não a quem eu era, mas a quem eu possa ser.

... Lucas Augusto ...

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