Inicio Reinício - Amor


-Não quero te perder... - disse ele a abraçando, não apenas com os braços, mas com sua aura que cintilava um rosa lindo.
Ela abriu um largo sorriso que refletia a luz de um sol transcendente e puro, as emoções no astral são muito mais fortes. 
-Não estamos indo para nos perder e sim para nos encontrar novamente, lembra? E provar da verdadeira bussola universal, o amor.
De um verdadeiro certo modo, o que ele sentia, ela sempre sabia reconfortar e transmutar. Não tinham medo, estavam tomados por uma certeza única, de mãos dadas andaram até a luz até que as mãos se separaram e seus espíritos foram levados para lugares diferentes, em hospitais distintos e longínquos.

Lutero 

Desde do seu primeiro beijo aos 14 anos uma sensação o assombra, sendo mais aguda em dias frios e nublados. Ao beijar uma garota qualquer na saída da escola sentiu como se nunca nenhum lábio o fosse satisfazer interiormente. É claro que o corpo gostava do beijo e os hormônios de pré-adolescente se agitavam. Mas algo no fundo de seu espírito trazia a falta e o vazio. Os beijos eram bons mas não eram complementares e não faziam o tempo fluir mais devagar. Com o tempo os beijos tornaram-se ainda mais vazios até que ele perdeu completamente a vontade de outros lábios...
Com essa necessidade de sentir demasiadamente para ter a certeza, tornou-se um empático notável, embora preferisse sentir mais o vento do que as pessoas. Odeia filmes românticos, não pelo drama, mas pelo vazio que eles despertam em seu coração, como se ele soubesse que pode viver um amor mais verdadeiro que qualquer filme, só não sabe como e por onde começar...

Letícia

O que mais gosta de fazer é olhar para o horizonte, principalmente nos por do sol. Procura algo que as nuvens se escurecendo ocultam entre as estrelas. Algo distante mas de suma importância... Não se sente propriamente vazia, mas com a necessidade de encontrar algo muito precioso, sente que precisa partir em busca de um tesouro. 
Por este aspecto psicológico, as vezes foge de casa e sai correndo pelas ruas... Como se fosse encontrar o seu diamante na próxima esquina, sua família sempre a encontra em algum beco escuro e vazio, não chorando, mas com um olhar profundamente sem brilho.
Teve muitos relacionamentos intensos, mas que não duraram. Tinham a intensidade, mas não tinham uma fórmula secreta que faz a intensidade amadurecer e permanecer: a sincronia.

Os Dias E Anos Vindouros

Lutero não saiu nunca da cidade onde nasceu, ficando com a casa de seus pais depois que estes se foram. Por causa de sua sensibilidade desenvolveu uma aversão ao mundo, embora seu coração o empurrava para fora de casa, o enorme tamanho do mundo o assustava, precisava de alguém para segurar sua mão, mas nunca nenhuma se encaixou com a sua. A única vez que saiu de casa, foi quando seus pais ainda estavam vivos, na verdade ele fugiu por três dias numa noite de lua cheia, chorando pelas ruas escuras, perguntando às pessoas desconhecidas se viram uma certa mulher com as descrições de seu mais profundo subconsciente. Ninguém nunca a vira, ninguém a conhecia. Vive agora vivendo do que planta em sua horta, acostumado com o seu vazio interior, as vezes, mas poucas vezes... Olha para o horizonte, como se encontrasse outra pessoa que está olhando para ele também.

Letícia viajou e conheceu os grandes centros urbanos, os grandes monumentos históricos. Adquiriu grandes riquezas para tentar saciar sua necessidade de algo além. Mas o dinheiro não satisfaz todas as pessoas, algumas encontram sua alma gêmea nas notas de cem reais, mas não é o caso dela. Não tinha dinheiro para comprar as coisas mais belas que não possuía: O por do sol, o horizonte que tanto amava contemplar... A lua cheia que a ligava a algo ou alguém do outro lado do país, a felicidade do amor que tanto almejava... Nem se vendesse sua necessidade por outra metade de sua alma perdida, não conseguiria nem ao menos as estrelas...


Ela, morreu aos 78 anos e ele aos 84. Morreram sem viver... Porque o amor não teve seus dias floridos para aquelas duas almas, não se reencontraram como haviam prometido um para o outro. Talvez não reencarnaram para aprender sobre o que mais sabiam: amor. E sim, para aprender sobre o que não sabiam: a enorme falta que um amor verdadeiro faz em nossas vidas. Sem ele, a realidade é apenas ela mesma: dura e impenetrável. Mas quem sabe, eles não se reencontram depois que a realidade se quebrar e seus corações pararem de bater....

... Lucas Augusto.


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