Memórias de um velho poeta

Itália, 2046

Em uma rua pequena, as 8h36m de um domingo, ele descansa a inspiração poética, respirando profundamente e tomando um café típico da Itália, pela primeira vez. Novos sabores o divertem. Olhos cansados de capturar a poesia dentro da vida e envolvendo a morte - estações, estrelas, afetos. E se sabores desconhecidos o divertem, os ciclos da existência o faz sorrir.

Então lembrou, de repente quase que subitamente: daquele dia estranho de 2017. Quando ele era ainda uma faísca ininterrupta do que se tornaria décadas depois. Permitiu que sua mente se perdesse um pouco nos fios do destino que não teceram obra alguma, navegou naquela lembrança distante, naquela mulher a milhares de quilômetros daquele banquinho italiano.

Do seu corpo tão conectado com a alma, cada poro expirando o calor de oitenta batidas por segundo. Ela é calma como as pétalas, lembrou perfeitamente de seus olhos fechados ocultando o brilho da íris, escondendo seu conhecimento, sua luz. Do corpo esticando e movimentando, retraindo e expadindo a aura límpida num perfume calmante e apaixonante. E se cada imagem dela estava intacta na memória, a voz suspirava com a brisa as conversas e a despedida.

Uma gota de chuva do presente cai no centro da sua cabeça e o desperta para o presente. O café esfriou, não há fumaça tentando formar o indomável. Logo começará a chover.

-Espero que esteja bem - ele diz, suspirando, como se ela pudesse ouvir do outro lado do oceano.

L.A.

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