Patrícia Pereira

Foram necessários oito minutos e vinte segundos de viagem intergaláctica para a luz do sol atravessar o vidro do ônibus, despojar-se em sua pele e ampliar a luz natural dos seus olhos. Espiritualmente, a luz tornou-se nítida e em contraste com seu corpo adquiriu cor. 

Prevendo o trovejar da poesia, desviei a atenção para o caos do mundo onde gritos enfurecidos reclamavam sobre alguma coisa findável, e olhos passivos depositavam esperança em telas virtuais com seus laços liquidos, mas era tarde demais: como uma obra pincelada por Leonardo da Vinci a imagem deste momento inexorável preencheu a memória de longa duração.

Durante a pontuação dos segundos que floresciam o dia, as raizes da semente semeada as 7h20 cresceram sem pestanejar. As densas palavras soaram o sino do meu interior e a poesia começou a ser parida do ventre infinito do coração.

Cada batida um verso invisível: cento e vinte versos por segundo, rimando com a sua voz de sereia do mar atlântico. Perdido entre o mundo e sua beleza onírica, concluo que é a poesia e não a vida que não tem limites. A poesia criou seus traços, seus olhos poéticos, seu perfume que diminui a velocidade do ônibus e ao mesmo tempo faz o tempo alcançar a eternidade. "A verdade, meu amor, é que eu não sei como parar esse poema". Perpetuar-se-á até o fim dos tempos esses ditos, até que eu não esteja mais aqui para congratular-me, e te pedir perdão.

E se um dia
As nuvens 
Não nascerem mais
E a própria lua falecer 
Você será o céu

L.A.

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