Os 22 Caminhos da Perfeita União

Amar-te-ei até rompermos, juntos, todos os três véus da Árvore da Vida.

Tau Shin Resh

A encontrei num bosque banhado pela penumbra do mundo, ela desenhava mandalas com hibiscos e papoulas vermelhas e amarelas, o olhar refletia a espera eterna por um novo ciclo. Por quantas eras você não recebe visitas neste teu coração? Seu cabelo leonino selvagem me amedrontou por um segundo, mas seus olhos azuis brilhantes como estrelas na escuridão da floresta encantaram-me. Meu amor?

O fogo sibilante era a única música que ela conhecia, as línguas de fogo misteriosas dançavam ao seu redor até o vento do Leste soprar e trazer a escuridão novamente. Finalmente encontrei um anjo?

Canela e olíbano brincavam no ar, acariciavam todas as minhas memórias olfativas, as substituindo por aquela visão perpétua e absoluta: sua beleza espiritual. Nenhum plano imaginativo sonharia com a sua criação, desta forma eu soube que não era uma alucinação. Finalmente o sol nasceu, você me levou ao transe e perdi a viagem dos ponteiros, então percebi: não existiam apenas árvores opacas ao nosso redor, você era contemplada por centenas de girassóis. Por que eles olham para ti e ignoram o sol?

Amar-te-ei até rompermos, juntos, todos os dois véus da Árvore da Vida.

Kaph Mem Num Samekh Ayin

Você permitiu que eu segurasse suas mãos e nos perdemos no oceano do outro: Nossas águas formaram um mesmo mar, desaguávamos na cachoeira, nas profundezas deste oceano confuso nos reconhecemos: temos a mesma cor.
Peixes brilhantes nadavam em círculos, éramos o centro do nosso próprio infinito, estávamos em fusão. Nos abraçamos mutuamente, os dedos se entrelaçaram assim como os símbolos do nosso sexo, nasceu mais do que prazer: um único lótus se abriu e sentimos subir até as estrelas de nossos inenarráveis sonhos, a energia pura do Amor. Seja qual fora o passado, estávamos regenerados: a alquimia vibratória da união.

Porém, sabíamos que este momento era apenas um vislumbre, e montanhas de espinhos criavam terremotos em nossa direção: mas tínhamos um ao outro. Passaram-se anos até caçarmos com flechas de junco todos os nossos aspectos negativos: ciúmes, inquietação, palavras não ditas quando deveriam serem ditas e as ditas quando o silêncio teria sido uma virtude, até sobrar apenas a Verdade. Apenas o Amor. Tornamo-nos Temperança. Eu sou teu Yang, você é minha Ying. Eu ilumino teu dia, e você dispersa a escuridão da minha noite.

Durante 9 meses teu ventre trabalhou em conjunto com os poderes criativos da natureza. Logo seríamos três universos, por mais de 250 dias eu acariciei seu ventre com essências de almíscar, você repousava deitada em seus mandalas. Ele nasceu numa noite de lua minguante, o nomeamos Shiva. Por motivos desconhecidos ao meu mistério masculino, seu coração dobrou de tamanho, sempre que eu me perdia na Roda de Samsara, a estrela em teu peito me guiava em direção aos seus braços, com passos firmes e largos, eu cantava para Shiva.

Amar-te-ei até rompermos, juntos, o último véu da Árvore da Vida.

Gimel He Vau Zayin Cheth

Quando Shiva completou 18 anos, eu e você cruzamos a cerca do bosque. Shiva permaneceu em profunda meditação dentro da Casa Celestial da Alma, no coração. Os pássaros nos traziam mensagens de todos os sete mundos enquanto caminhávamos rumo as terras de Aim Soph, por incontáveis Invernos, observamos Hélios trazer o dia e não impedir a noite.

Aos poucos as folhas e as árvores desapareceram, o deserto nos encontrou e encontramos o silêncio árido e a tempestades de ignorância humana. Beijamo-nos e a força cresceu, dividimos o céu em Lua e Sol, olhamos para o horizonte, uma estrela de prata longínqua saudou o Amor que tornava nossa aura una. Você não tremeu nem por um segundo, e eu mal me lembro a última vez que nossas mãos não estavam juntas.

Quando o deserto ficou para trás, foi meu coração que dobrou de tamanho. Finalmente pude ser uma estrela para você também, neste momento fizemos amor lento e silencioso, conforme nossos corpos trocavam a energia da vida, partimos para visitar reinos celestes inalcançáveis a quem não vibra em ressonância com o Amor Incondicional: Dançamos com os Deuses, fomos ainda mais longe de carona nas asas de anjos.

Eu te amarei além de todos os véus da Árvore da Vida.

Aleph Beth

Já não caminhávamos, flutuávamos sobre a Terra, passamos a morar próximos das estrelas. Estávamos tão leves quanto a essência do Amor em si. Nossa visão amplificou-se quase a nível onipresente, e os ventos, antes presenteando-nos com a escuridão, agora traziam o frescor de uma eterna Primavera. O tempo não existe aqui, e uma promessa vazia e ilógica transforma-se numa realidade: Eu te amo para sempre.

As constelações vizinhas te presentearam com um leque azul como teu olhar. Imagino se, os humanos, ao contemplarem o céu noturno, não confundem seus olhos com duas estrelas. Seu cântico angelical construiu nossa casa flutuante: nosso palácio branco de um cômodo. Tornamo-nos transparentes: seus pensamentos eram claros para mim, e os meus te faziam sorrir. Já conhecíamos este acontecimento, pois nosso Amor sempre foi um só. Eu escrevia poesias em seu corpo nu e você cantava a história da nossa jornada até aqui.

Após eras uma voz estonteante perguntou se queríamos ir adiante, porque a história não acaba se não for escrita nos anéis de Saturno. Sorríamos e dissemos a Deus:

O Amor é para ser uma aventura – eu respondi a Ele
O amor é um suporte mútuo – você disse a Ele
O amor é, enfim: Um jardim de romãs – sussurramos juntos.

L.A.
Escrito em 19 de junho de 2017

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