A.C.


27 de Julho de 2012
Mauá Plaza Shopping

Um dia não se torna eterno se seus momentos não são emocionantes.
Emoções não marcam se não tornam um dia eterno.

Era pelo filme que eu deveria esperar aquele dia, era por ele que eu deveria ficar ansioso, era ele que eu deveria imaginar como seria e sentir como poderia ser... Mas não foi, e como não foi... Não sei se eu estava preparado, nunca estamos preparados... Caminhei devagar enquanto a via de longe, precisava caminhar devagar, estava agarrando aquele momento! Com todas as minhas forças.
As portas automáticas estavam fechadas, em reforma, me avisando: Você não vai fugir. O que elas não sabiam é que eu não queria fugir. Mesmo com toda aquela vergonha expandindo minhas pupilas, acelerando o que chamam de coração e fazendo tremer todo meu corpo, eu não queria fugir, eu queria vê-la, eu queria ver seus olhos, seus atos, seus movimentos inconscientes, seus lábios! Queria senti-la de perto, eu queria vê-la.
Não, não se engane, nunca foi um desejo, uma aspiração, sempre foi um sonho, daqueles que você nunca sabe quando vai se realizar, daqueles que você teme. Você é o sonho que eu temo.  Pena que quando eu a vi estava sentada, queria cumprimentá-la como você merece, um beijo em sua mão, como bela dama que és, e um sutil e vergonhoso: É um prazer conhece-la. Mas os momentos sempre são eles mesmos, nunca são... O que queremos que eles sejam. Estava com minha pipoca, na verdade, não comprei por fome, mas para diminuir o nervosismo, não funcionou, nem mesmo andar pelo cinema vazio momentos antes... Porque aquela tarde tudo estava vazio, menos eu, estava preenchido pelas memórias que tenho de você, mesmo andar e cantar minhas músicas, preso ao fone – na verdade, preso a você - não diminuiu a ansiedade, ao contrário, aumentava, tudo aumentava, não, nem tudo, o tempo diminuía... E quase não passava.
Sentei ao seu lado, um toque do momento: Sentar ao seu lado... Tão educada alimentando-se, tão imprevisível olhando tudo ao seu redor. Tão sensível com suas tristezas profundas. Tão rígida e dura...  Talvez uma armadura, erguida depois de tantas guerras interiores... Nunca terei certeza, não quero certezas sobre o passado, quero apenas o presente. Eu era um bobo, um idiota, meus lábios não conseguiam ficar retos, riam sutilmente, a seriedade que tanto tenho dissipou-se por ela. Eu não controlava nada que falava, se alguém dissesse: Manga, eu diria: Mamão. A olhava e retirava o olhar, não sei por que fazia isso, queria olhar, mas talvez meus olhos estivessem assustados, porque ali estava alguém que não tinha medo de mim. Aos poucos fui me acalmando, não por minha causa, mas pela bela rigidez dela. Ela soube como colocar meus pés no chão, e finca-los para que criassem raízes.
Meu celular é tão bobo quanto o dono, há uma foto do número dela! E ela viu, como não poderia ver? É curiosa, adoro sua curiosidade. Suas bochechas ficaram vermelhas quando viu... Talvez não entendesse porque seu número estava ali. Estava ali porque eu não queria perde-lo, mesmo que minha experiência sussurre milhares de vezes para mim: Nada dura para sempre.  Mesmo que minhas tristezas e meu raciocínio gritem: Você nasceu para ser sozinho! Não podia tampar meus ouvidos ali, então os tampava olhando para ela, porque ela acalmava todo meu ser. Mas que merda! O tempo não parava! Porque não parava? Por todo o meu sofrer passado e futuro, porque ele não me dava um presente e parava ali! Só alguns segundos, para eu eterniza-la... Bendito tempo, passou, e mesmo não querendo ir, eu tive que ir. Por quê? Por medo, acho que ainda não acredito em tudo que sinto e vejo, porque seria real? Eu poderia facilmente ter rasgado o ingresso do filme. O dinheiro? Que valor ele teria perto dela? Nenhum, nenhum, nenhum! Sou desse tipo de pessoa que abandona coisas materiais por alguém. Ao levantar para partir, fui colocando o fone, eu precisava ouvir o que eu não conseguia falar: Beautiful girl, a música dizia várias vezes isso, e eu repetia mentalmente, mas a boca não conseguia reproduzir. E novamente andei devagar... Porque dessa vez queria olhar para trás, mesmo sabendo que ela não estaria olhando. Mas não olhei, fechei os olhos e senti como se nada tivesse partido, como se eu não estivesse mais sozinho.
O filme foi perfeito para o momento como nenhum poderia ser... Quase sempre falando de dor, solidão e abandono o tempo todo, porque no filme... Todos os personagens principais sofreram muito no passado e sofrem no presente, eles fingiam que a dor tinha partido, a dor nunca se vai. Ao sair do cinema a vi novamente... Por poucos segundos, a vi de perto, frente a mim, falando... Muito melhor que os sonhos que eu tive com ela. A despedida – para mim – foi triste e dolorida, mas sempre temos que partir, pelo menos, sempre em alguns casos. Eu quero voltar.
Tinha esquecido o horário... E para deixar o dia ainda mais bonito e inesquecível, já estava à noite quando sai do shopping.  Porque isso faz diferença? Por que a noite me toca... Faz minha essência vibrar, a noite fala comigo. E eu contei para ela sobre você.

Yanos Talesin
Lucas Augusto
Inácio Bucowsqui

Mesmo sem a ajuda do tempo, eu eternizei aquele momento.

                                     


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