França, 2038

O sol invadia o quarto aquecendo as costas nuas dela. Sem dizer uma palavra ela fazia mil confissões através do olhar, permitindo que eu escrevesse poemas em seu corpo enquanto fazíamos amor. 

-Por que não lê o poema, meu amor? - ela pede sorrindo.
-Cada dia que fizermos amor escreverei em ti apenas uma estrofe. Lerei quando eu acabar de escrever o poema completo.
-Então…?
-Faremos amor todos os dias para o poema acabar mais rápido! 

Ela sorriu e balançou a cabeça negativamente, enquanto deitava ao meu lado. Sua boca possuía força magnética: atraía a minha boca e meus carinhos. Tão próximos seus olhos lembrava-me constelações, ela definitivamente era minha estrela. Acariciando seu rosto, sussurrei:

Ao toque inefável do Amor,
Teus olhos se tornaram estrelas,
Forjadas do calor de nossas beijos,
E penduradas no céu do teu coração.

-Talvez valha a pena todos os dias… - ela diz sorrindo, uma lágrima caiu do seu olho azul esquerdo.
- Por que choras, meu amor?

Por alguns instantes ela observa a cidade pela janela, o sol fraco da manhã se refletia em seu olhar brilhando e brilhando. Descobri a resposta, ela estava feliz. Por baixo do lençol beijei lentamente seu corpo até os pés, e mais uma vez o Sol se encontrou com a Lua.

As 12h00m o poema se apagou de suas costas, uma espessa neblina impedia a contemplação do horizonte. Nosso amor se tornou uma lembrança distante de uma manhã ensolarada. Sob o clima lúgubre, rodeada de pessoas estressadas, ela sempre sorria, é impossível enxergar o sol através da neblina, mas seus olhos brilhantes e sua alegria constante possuíam todos os sóis que eu preciso.
Por mais quatro anos nos encontrávamos todos os dias. Conhecemos juntos cada atração da cidade. 

Decoramos os becos para os beijos, os bons hotéis para o amor. E até planejamos comprar uma cabana ao leste da França. Minha felicidade durou até 23 de Julho de 2042. Não compareci ao enterro, prefiro conviver com a imagem do sorriso e dos seus olhos brilhantes, mesmo sem vê-la e tocá-la meu amor por ela viverá como uma sensação espiritual quase física, e quando a neblina cobrir a Torre Eiffel eu lembrarei da luz do teu olhar, meu amor. Eu lembrarei dos mais de mil versos que seu corpo absorveu por Amor. Eu lembrarei de você. Eu te amo.

L.A.

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