Trechos de uma história sem fim

Seu corpo era um livro, cicatrizes no tórax de histórias que ela não me contara. Eu gostava de brincar com seus olhos tristes, com as palavras bonitas brilhavam e a íris se expandia, dois sois nascendo pela manhã. Nas brincadeiras tentavam se esconder olhando para baixo, numa graciosidade que fazia com que suas bochechas rosadas se tornassem. Ela não enxergava a tempestade de raios solares que  causava dentro de mim. Prestes a explodir de inspiração. Prestes a me perder dentro do caos-ordenado dos centenas de insights por segundo. Ela enxergava. E achava lindo meus movimentos involuntários a cada segundo que o êxtase poético percorria minha coluna vertebral. Visões e sensações de centenas de palavras, poemas e histórias ao meu redor  invisíveis e visíveis, infinitas, entrando em meu cérebro como injeções de adrenalina causando imparáveis e perpetuáveis arrepios. Desaguando – com força e precisão – nos dedos, nas unhas, nas mãos – ao ponto que escrever se torna um tocar de piano no teclado do computador. Não mais penso. Para que  pensar? Meus dedos se movem solitários e intensos. Eles sabem o que escrever e sobre o que escrever. É como uma dança – penso – em passos proibidos. Os dedos sabem quando apagar o erro – não gramático – que causa falta de harmonia nestas frases que você lê. Segurei a mão dela, a pele macia faz meus neurônios mergulharem em sinapses contínuas – é como se por todo o meu corpo houvesse neurônios. E não para. Nunca. Quem vê de fora deve pensar que estou utilizando drogas ilícitas. Não. É pura e absoluta inspiração. Desisti – há muito tempo – de tentar encontrar a origem – dentro ou fora? Sei que neste estado – quando intenso – a boca seca rápido, é como se meu corpo estivesse evaporando todo o líquido com o calor da inspiração.

Tudo isso em 5 segundos – com seus olhos e suas mãos.

Há como controlar mas não como fechar a porta. Torno-me indiferente às sensações e visões. Estão aqui, contudo não têm minha atenção, minha importância. Não. Isso não diminui a intensidade. Apenas torna-me sã. Vejo as pessoas lendo poetas antigos e recentes num doce prazer literário, na inocência do desconhecimento do tamanho imensurável da solidão que é escrever apenas uma frase imerso em toda esta inspiração. Não posso contar a ninguém, pois qualquer explicação torna minúscula a extensão da verdade de toda a inspiração-arte que passa e é absorvida por mim neste momento. Estou sozinho no olho do furacão. E isso é lindo. 





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