Onde se encerram as estrelas?

Lá estava ela perguntando outra vez à sua mãe o por quê de o amor não ser simplesmente um jardim de flores azuis. Aos quinze anos as emoções são infinitas e a eternidade torna-se sinônimo de amor. Os olhos inchados refletiam a ânsia por respostas. Sua mãe olhou para ela e não respondeu, apenas inspirou profundamente como se o estado da filha já tivesse sido o seu estado um dia e de todos aquelas que tem um coração batendo no peito. Finalmente o instinto materno se sobrepôs, e resolveu responder como sua própria mãe a respondeu quarenta anos atrás.

- Se não parar de chorar agora, irá chorar o resto da vida.

A filha não entendeu a parábola, a mãe não sabia que amores não são passados de geração em geração. Todo amor é tão grande ou tão pequeno quanto o coração que o sustenta, assim como é muito difícil encontrar um trevo de quatro folhas, é muito improvável encontrar num espaço de uma vida um coração que tenha os pilares para sustentar um amor verdadeiro. Eliane passou a chorar mais e mais, ajoelhada no chão suas lágrimas eram fogo e desespero, levou as mãos ao rosto, suas lágrimas eram dor e escuridão, gritando aos quatro pontos cardeais, sua voz era uma súplica. Aos quinze anos ela descobriu o gosto do amor e da morte. Sua mãe não sabia que o namorado da filha morreu, imaginou um término, uma traição, uma briga, qualquer coisa. Ele conhecia todos os traços do corpo de Eliane, foi o primeiro a tocá-la, a amá-la – o amor também é um toque primordial. Foi o primeiro a perguntar os sonhos dela, a criar sonhos com ela, fez questão de comprar todos os sabores de sorvete só para descobrir o sabor favorito dela. 

- Nenhum homem vale tanto, minha filha. Ele te traiu com alguma amiga?

Nenhuma palavra mais sustentaria sua sanidade. Perder-se-ia completamente se dissesse em voz alta o que realmente aconteceu, não conseguiria ouvir a própria voz noticiando o innoticiável. Deitou-se no chão molhado e salgado, encolheu-se agarrando as pernas tentando se proteger da imensidão da dor que a envolvia. Os sonhos desfizeram-se no chão, absorvidos pelo infinito eco do adeus. Ele conhecia a alma dela, foram beijos demais para serem apagados pelo destino. O que é o destino? Se não uma sucessão de ensinamentos, e este, naquele momento, era o dela: Somente o que está nas profundezas inacessíveis do coração, é eterno. A dor foi a chave para o seu próprio coração. 

Então ela levantou, enxugou as lágrimas e sorriu. Compreendeu algo que levaria dezenas de vidas para aprender naturalmente, ela enxergou através dos planos espirituais que o amor não é uma emoção, não acaba nas margens de um sentimento. O amor é o ingrediente final do sopro que deu origem a toda existência. Sem o amor as estrelas não brilhariam e o universo autodestruir-se-ia. Compreendeu enfim, que o amor nunca acaba no fim de um casal, pois o amor está contido em todos os átomos do universo.

- Eu te amo - sussurou. 

L.A.

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