A Fada Caída

Esta é uma história verdadeira e por isto não espere um final feliz,
Há felicidade sim na realidade,
Mas não quando os fins a levam para a escuridão da cidade.

Nos anos primeiros de sua infância ela quase se gravou com um traumatismo craniano ao se jogar da sacada – tinha a certeza que voaria. Sentiu o punho firme da realidade destroçando suas sutis certezas, pela primeira vez. Porém, suas fantasias se regeneraram sozinhas, pode ter perdido as asas imaginárias, mas não as interiores: Voava entre sua alegria vívida e os pulos infantis. Era uma criança, sem dúvida e uma fada caída a vagar entre humanos densos e vazios. Humanos: Sorriam chorando e choram escondidos, são falsos consigo mesmos e adoram humanos verdadeiros com suas verdades falsas, reprimem seus monstros e os libertam quando você está sozinho no quarto com eles.
Contudo, nossa fada ainda era ela mesma. Mesmo com o medo dos monstros invisíveis a torturando psicologicamente as três da madrugada, ela não dormia, mas percorria em si castelos e bosques mágicos. Tudo que ela precisava estava dentro de si. É claro, que as vezes ela cedia para pequenos gostos humanos, mas logo os deixava para lá, pois não a ajudava em nada e ela não sentia pontos interessantes em coisas humanas. Não, ela não vive dentro de uma bolha, ela vive sentindo o que há de belo no mundo. Até conhecer alguém que a mudaria para sempre, mas lembremo-nos, nós escolhemos nossas escolhas, os outros apresentam apenas oportunidades. Reformulando: Até conhecer alguém que apresentou a ela incríveis oportunidades.
Ela encontrou outro ser mágico. A vida o trouxe entre tantos fios e infinitos possíveis acontecimentos, em uma cidade com quase meio milhão de ambientes, eles se conheceram. Os monstros invisíveis sumiram aos poucos – enquanto os meses passavam. O sentimento crescente a protegia de qualquer ameaça, mas este mesmo sentimento a conturbou por ser tão intenso e puro, e também o conturbou. Tudo foi tão intenso quanto garras de leões.
Infelizmente, em algum ponto entre a adolescência e o começo da vida adulta, a pequena fada caída começou a se tornar humana. Seu coração se fechou, não sentia e não via a beleza da vida como antes, permitia que o medo fosse o cadeado da sua torre longínqua que não tocava o céu, mas arranhava o inferno. Permitiu que outros tocassem em seu peito com sentimentos densos, sentimentos-lanças que perfurou cada parte da sua alma de fada. A sensibilidade espiritual se transformou em frieza humana: A sensação de ser invencível, mas na verdade ser fraco e vazio. Ela permitiu que roubassem seu conteúdo, dia após dia. E invés de se jogar para o seu garoto mágico, ela se jogou para o outro lado: Braços de humanos que a sugam cada vez mais, mas eles continuam do mesmo jeito e ela... Perde seu ouro interior.
Eu disse que seria triste, não disse? Ela foi levada para a parte escura da cidade. Agarrada por laços superficiais e curiosidades fúteis. Ela não tenta mais voar da sacada, vive no chão e na lama junto com os que não olham nunca para o céu. Com sua felicidade rasa ela irá viver ou isso não seria vegetar? Ela perdeu a imaginação, o pulsar da vida no peito, a alegria de pular, a empatia para com a vida, o coração e a chama interior e o mais importante e fundamental: o Amor.


L.A.


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