Amor de passarinho

[...] Caminhando sob folhas secas num bosque esquecido pelo tempo, Melissa fugira de casa e procurava aqui um abrigo, seus pés pisavam puramente nas folhas que caíram com a chegada do Outono, o bosque estava nu. Em seus braços um ursinho chamado Ted a fazia companhia sem falar uma palavra, apenas sendo abraçado. Seus olhos nostálgicos faziam de seu coração um escravo de lembranças e afetos agora não mais sentidos, sua pele quente por conta de uma futura possível febre, vestindo uma blusa marrom escura quase da cor das árvores despidas, e uma calça cumprida verde escura que tentava a manter aquecida sem sucesso, o frio estava de arrepiar os pêlos do corpo, e assim fazia.
Fugira de casa cansada dos maus tratos do irmão mais velho, que sua mãe com carinho pensava que é um anjinho, cheia de marcas e hematomas cobertos pela roupa fina, ela continuava andando, sem parar.
Depois de algumas horas, sua perspectiva já a enganava e despertava uma sensação para sua mente: O bosque não tinha fim, quanto mais ela caminhava, as árvores pareciam às mesmas, as folhas não cessavam o barulho, ela devia estar perdida, mas quando não se tem um lugar definido para ir é possível se perder?
A garotinha então respingou lágrimas tristes de seus olhos febris – A febre chegara- enquanto em seus pés, ali diante dela, um passarinho tocando a morte suspirava cantoria, ouvindo furiosos pius Melissa olhou para cima, e percebeu que o pobre pássaro havia sido jogado pelo irmão para fora do ninho, no chão, muitas bicadas o animalzinho possuía, e já estava sem o olho esquerdo. Melissa tomou consciência aqui que ela e o passarinho possuíam algo incomum: O irmão malvado mais velho. Inocentemente a menininha largou o Ted e pegou o pássaro que já estava ofegante, colocou-o sob seu peito e disse baixinho que iria amá-lo. O bichinho pareceu entender e soltou um piu, o último som de sua pequena vida... A menina chorou tão tristemente que produziu um som abafado em sua boca, seus lábios tremiam, suas pernas ficaram bambas, então ela deitou naquele chão pós-morte, e sonhou... Sonhou que amara o passarinho. [...]

...Lucas Augusto...

Fragmentos duma história interior.

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