A pureza de uma criança


Há muitos anos atrás, enquanto eu caminhava pelas ruas de uma bela cidade no interior do Rio Grande do Sul, uma criança com olhos puros, aparentava ter 4 anos. Me parou de repente:
- O Moço estou com fome, meu coração esta confuso, por favor me ajude!?
Eu, sem duvida não pude negar, levei a doce criança, para tomar um café em uma padaria e lá começamos a conversar:
-Qual o seu nome garotinho?
-Não tenho nome não moço. Respondeu ele.
-Mas como assim?todos devem ter um nome...
-Claro que não moço, as pessoas não deveriam se reduzir a um nome, somos muito mais que isso.Respondeu a bela criança com olhos que brilhavam.
O silêncio tomou conta do ambiente, por alguns segundos, e então o menininho disse:
-O Moço, eu não entendo porque há tantas guerras?
-Bem, as pessoas hoje em dia estão dominadas pelo dinheiro, ambição, maldade...
-O que é maldade moço?
-É quando uma pessoa tenta ferir outra, por estar com raiva.
-Mas porque as pessoas ficam com raiva moço?
-Porque outras pessoas que estavam com raiva prejudicaram outras, as vezes também porque algo não da certo.
-Mas porque algo não da certo moço?
-Porque as pessoas tendem a pensar negativo em suas vidas, muitas vezes tendem a percorrer suas vidas em busca de algo que nunca encontram.
-O que as pessoas procuram tanto moço?
-A felicidade minininho. Passando as mãos em sua cabeça.
Saimos da padaria e fomos caminhando para um parque ali perto. Enquanto caminhavamos, conversamos sobre a vida:
- O moço, eu sou feliz, e não sinto que me falta nada, então eu acho que a felicidade já esta dentro de nós, como as pessoas não conseguem sentir?
-As vezes a vida tende a ser dificil querido, muitas pessoas se iludem pensando que a felicidade esta em carros lindos, casas enormes, e só descobrem que não encontraram a felicidade nessas coisas muito tarde. Menininho porque confia em um estranho como eu?Eu poderia ser um assasino ou algo pior...
-Não tenho medo não moço, eu consigo ver sua alma e suas intenções.Por isso tenho passado fome, poucas são as pessoas que alimentam quem tem fome.
O silêncio tomou conta novamente, depois de alguns passos sua doce curiosidade se revelou novamente.
-O moço, porque as pessoas sofrem?
-As vezes meu doce amigo, as pessoas tendem a se decepcionar, perder pessoas...
-Eu não sei o que é isso, quando eu perdi minha mãe e meu pai eu não senti isso.
-E o que você sentiu?
-Senti Amor moço, eu vi minha mãe saindo do corpo e voando com asas de anjo em companhia do meu pai depois de ter levado um tiro, eles me disseram que eles sempre estaram comigo para me guiar.
-Eles estão aqui agora?
-Não moço, isso aconteçeu agora a pouco antes da gente se conhecer.
Sentamos em um banco, sob a sombra de uma arvore, ficamos alguns minutos observando o parque, a natureza, o céu.
-O moço o que você vê olhando para o céu?
- Eu vejo o azul.
Com um doce jeito, ele andou até mim, e docemente colocou a mão sob meu peito. Naquele mesmo instante eu senti um choque percorrer todo meu corpo, mas não havia dor, senti uma enorme paz de espirito com aquele doce toque.
-Olhe de novo moço, para o ceú. Disse a criança com uma voz ainda mais doce e olhos que refletiam a pureza.
Naquele instante eu me emocionei, olhando para o céu, eu podia enxergar todas as estrelas como se elas tivessem um pouco acima de meus olhos, via constelações inteiras bem acima de minha cabeça, vi meteoritos cruzarem as estrelas, vi o nascer e a morte de estrelas, senti o calor puro do sol.
Meus olhos voltavam para a criança pura que a pouco tempo conversava, mas ela não estava mais la... Somente eu, em companhia de minhas lagrimas de emoção, do meu lado vi um papelzinho azul escrito:
"Moço obrigado pelo pão, meu Pai Deus nunca vai esqueçer, Muito obrigado por me fazer companhia enquanto me sentia só, porem tive que ir, enquanto você chorava olhando para o ceú, das minhas costas sairam asas, e eu vi uma luz vindo das nuvens chegando até mim, essa luz pediu para eu escrever essa cartinha e como ponto final deixar essa frase: Quando todos alcançarem a pureza de uma criança, criaram asas de Anjo e o Senhor os chamará"

Nunca consegui esqueçer aquele dia de domingo de 1984. ...Lucas Augusto...

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