Primorski - Rússia, 1991

Em contracena com o sol deitando-se no horizonte os flocos de neve cobriam, lentamente, as vidraças coloridas da nossa paisagem de única tonalidade: branca. Teus dedos brincavam com os meus por baixo das cobertas: explorando nossos sonhos, nossos sexos. Todo o prazer que eu buscava despertar era os dos teus sorrisos mansos e meigos que quebravam o silêncio gélido e aqueciam meus olhos – numa espécie de brilho interno, espiritual.

Seu perfume de mulher sensível e energética amaciava minha imaginação, levando-me a sonhos longínquos e diminuindo meu ritmo cardíaco: o amor é, enfim, um jardim de flores sutis. E de repente tua voz me trazia de volta. Teu carinho cravava todos os meus sete sentidos no presente. Teu vestido de seda logo escorreu por sua pele macia: como a água límpida escorre no curso de um rio intocado. Tuas formas formaram meus desejos, minhas mãos se estenderam para te alcançar, não foi preciso: você se entregou.

Nos abraços que dançavam valsa com os beijos o ar não era preciso, o oxigênio tornava-se rarefeito. E se um único floco de neve tocasse teu corpo naquele instante, instantaneamente ele se tornaria vapor. Intenso não faria jus. Na fricção de nossas esperanças nenhuma partida deveria acontecer, jamais. O eterno é sempre a única idealização. Mas se mesmo a beleza da neve é apenas um ciclo da água. Por que nosso amor continuaria indefinidamente naquela cabana abandonada?

Dê-me tuas mãos. Sussurre em meus ouvidos teus medos. E o amor nos guiará até a morte do próprio Tempo.

L.A.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Trechos de uma história sem fim

02/12/2023

Freedom