Uma História Sem Amor

Está é minha história até 16 de Novembro de 2015 às 4 horas e 5 minutos da madrugada. Vou começar pela minha primeira memória amorosa, aos seis anos de idade me mudei para onde resido atualmente, ao sair para brincar pelo condomínio vejo ela, a garota mais bonita do bairro (quando somos crianças um bairro é o mundo), Ellen, morando no último andar do outro lado do bloco, foi a primeira vez que eu senti a chama viva no peito, brincávamos um pouco juntos, muito pouco, pois a mãe dela não permitia que ela saísse muito de casa, os anos passaram e eu nunca a esqueci, até os 15 anos de idade: consegui o MSN dela, o sentimento ferveu no peito, a ansiedade fazia tremer até os ossos, o que eu faço? Falo que a amo! Desde o momento que a vi! Conto a história toda - que você já conhece uma parte. Na minha cabecinha, o amor teria que gerar amor, simples ação e reação. Ela me bloqueia, foi a primeira vez que eu senti um grande desgosto e o aperto no peito, minha primeira descoberta na vida: Amor não gera amor. Ellen hoje está casada. Mas, voltemos muitos anos antes, na primeira série do ensino fundamental, na E.E Sylvio Gueratto. O nome dela é Bete, a professora e eu mal sabia ler, ninguém nunca soube que eu gostava dela, o gostar de uma criança é apenas o desejo de tomar sorvetes juntos, eu a olhava a admirando, apreciava seu sorriso. A reencontrei anos depois, mas nada mais senti. Ela me ensinou a ler e também me mostrou o que é admiração sincera. 

A terceira memória amorosa está na segunda série, na mesma escola, o nome dela é Bianca, todas as outras crianças sabiam que eu gostava dela, quando a professora saía da sala todos começavam a cantar: O Lucas gosta da Bianca! O Lucas gosta da Bianca! Bianca e eu nos envergonhávamos e trocávamos sorrisos, mas nunca conversamos. Da terceira a quarta série surgiu a Magali, ah Magali! Aquele sorriso tão sincero! Eu nunca a vi fingindo um sorriso, sempre brilhava! Na verdade, a encontrei pela primeira vez na pré-escola, prima do meu primeiro melhor amigo, que no mesmo ano foi embora para outra cidade, creio que seja por isso que hoje eu não entendo muito amizades, eu sofri quando ele foi embora, e com aquela idade eu não compreendi muito bem aquele sentimento de partida. Mas continuando, Magali! Eu realmente gostava da Magali! Nunca enjoei de observá-la na sala de aula, sempre sorrindo, como se o mundo fosse constituído apenas de flores! Um dia, em particular, uma amiga que sentava na minha frente, Adila confessou à Magali que eu gostava dela, meu Deus, eu escondi o rosto na cortina todo o resto do dia! Adila, claro, riu de mim todo o resto do dia... Na hora de ir embora, ao olhar para Magali, ela não estava sorrindo para mim, estava me olhando com uma expressão de desprezo e indiferença, meu primeiro fora indireto, na quarta série tive que suportar Magali e Paulo namorando na sala de aula e no recreio, todos os dias. Conheci o amor alheio... Não preciso dizer que doeu e Paulo se transformou em meu arqui-inimigo com direito a socos na aula de educação física e eu com gelo no olho, vendo Magali o abraçando – os não correspondidos sempre apanham, ok?

Mas a vida é bela, continuemos. Um fato curioso ocorreu na quinta série, aliás, dois fatos: O primeiro foi com a Quênia: Eu tinha um certo desejo de beijar a boca dela, quando a professora saía da sala, Felipe era que a beijava. Ainda na mesma série: Pâmela disse aos meninos da sala que estávamos "ficando", eles vieram confirmar comigo se era verdade, eu disse... Não! E em seguida perguntei para um amigo o que significava "ficar". Nunca me arrependi tanto na minha adolescência, nunca me senti tão burro e idiota. Pâmela tinha um rosto tão gentil... Se um dia você ler isso, saiba que eu te quis. Sexta série! Outra escola, ninguém marcante, mas minha visão poética começou a dar o ar das graças neste ano, eu já não via mais a beleza como beleza propriamente dita, mas como traços pincelados individualmente por criadores invisíveis, como se existisse uma consciência por trás de cada corpo, eu sentia a beleza vibrando, cada sorriso não era mais apenas um sorriso, mas manifestações puras de uma espontaneidade divina, as garotas, todas, se tornaram musas para mim. E o mundo um palco: Ao observar folhas caindo das árvores eu sentia o fluxo do cair, do rastro, e toda a inspiração por trás disso. Poemas, histórias, livros entravam em mim, me invadindo, gritando para serem escritos, dos lábios carnudos de uma garota ao canto do sabiá, tudo se transformou em poesia.

Aos 18 anos eu já tinha escrito três livros e começado outros três, que parei de escrever, não por falta de inspiração, mas por medo dela, pois como dizia Rimbaud: “O poeta faz-se vidente através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos”. Sétima série! Kerly, não me recordo o que me chamou atenção fisicamente nela, era mais algo interior, o jeito dela, inocente. Eu também gostava de olhar o bumbum da Kerly, o formato despertava em mim uma constância poética, era como olhar para o sol: a imagem me queimava por dentro, mas Kerly interpretava meu olhar como pura safadeza, ela contou para sua mãe, e a mesma ordenou que ela se afastasse de mim. Também vi ela namorando garotas, e narrando suas experiências para mim. Não sei se ela contava por maldade ou por simples entretenimento. Foi um longo ano sentando atrás dela na sala de aula, com todos sabendo dos meus foras diários - sempre fui guerreiro. Só um poeta (ou idiota) insiste em cantar uma lésbica.

Primeiro ano do ensino médio... Carla, a morena sorridente da sala - tenho queda por sorrisos, é verdade. O meu primeiro e único poema em público foi para ela, com mais ou menos 12 estrofes. Li para ela, com todos observando na sala de aula, tremendo, li cada linha com entonação e sentimento, a folha exalava o perfume que eu colocara. Mas, Carla foi gentil, me deu o fora na saída da escola, "é melhor sermos apenas amigos" ainda lembro-me de suas palavras e de sua voz naquele dia, segurei o choro, foi a primeira vez que descobri a força física interior e a usar os músculos do coração, pois a lágrima escorreu por dentro. Meu amigo perguntou - você está bem? - Estou ótimo - respondi, a primeira vez que menti sobre meus sentimentos. E a primeira vez... Que eu descobri que para um poeta, um poema mais fere do que enobrece. “Mencionei que o último verso do poema, foi” Quer namorar comigo?”Pois é. Neste mesmo ano, aconteceu meu primeiro beijo em uma gordinha bonita, Danubia, um nome sexy, eu sei, mas eu acho que a engoli. Foi sem sentido... Aprendi então, que ficar é chato. No mesmo ano travei ao tentar conversar com uma garota, e no meio do ano saí correndo ao tentar conversar com outra. Escrevi cartas para outras duas, a primeira, no outro dia após receber a carta, ao me ver chegando na escola sentou no colo de um garoto e ficou me olhando. A segunda não vingou, ela tinha uma pequena deformidade no nariz, todos tiravam sarro dela por isso, saiba que eu sempre te achei linda.

Segundo ano! Não lembro o nome, ela sumiu depois deste ano. Nunca mais a vi, nem no Orkut ou Facebook. Vamos lá! Ela me olhava... Dava a entender que me queria, então no aniversário dela, eu comprei uma cesta da Cacau Show e entreguei na sala de aula. Ela ficou feliz, e... Confusa, não sabia o que fazia. Conversamos por MSN e ela disse que ficaria comigo por um dia e se gostasse continuaria, eu recusei, já tinha descoberto o beijar e ir embora. Qual o sentido? Sem conhecer os sonhos da pessoa? Os medos? Sem abraçar? Sem passear juntos? Sem ver um filme de terror juntos... Porém, ela sempre foi gentil comigo, me tratava com certo ar de carinho. Obrigado pelo respeito. 

No último ano, todos já estavam namorando, ou enrolados. Eu apenas observava as garotas chorando ou sorrindo (com uma imensa vontade de abraçar as que choravam). E foi neste ano que eu conheci amor, mesmo que tenha sido à distância, o puro e sem limites, o infinito. Neste, eu estraguei tudo por causa da minha imaturidade. Mas, somos amigos até hoje. Aliás, minha única amizade remanescente. No primeiro ano da faculdade, no comecinho: Criei a coragem de pedir o MSN de uma garota que pegava o ônibus no mesmo horário que eu, escrevi dois poemas para ela, leu e me bloqueou no Facebook.

No curso de inglês conheci uma garota incrível, simpática, gentil, inteligente, bonita, sorridente. Pedi o MSN dela! Conversamos muito por uma semana mais ou menos, ela já namorava. Parou de falar comigo, talvez por ficar muito ocupada, gosto de acreditar que foi por isso. Um ano depois mais ou menos, veio ela, namorada, na mesma cidade, mas nos víamos de um em um ano, vamos chamá-la de L, com todas as complicações. Entre términos - onde eu conheci uma garota chamada Bianca que me trocou por um cara com carro - e voltas, o contato com L durou três anos. Minha necessidade por drama poético, e vontade de extrair de cada momento um sentimento e uma história e minha carência imensurável estragou tudo. Eu despejei nela toda a vontade de beijos e carinhos de todas as garotas anteriores, ela se transformou num ponto no espaço tempo para onde todos os meus sentimentos eram direcionados, ela não aguentou. Se foi como chegou: subitamente, acabou de uma forma horrível: entre indiferença e dor. Escrevi um livro para ela, mais de 10 poemas, estórias de amor inspiradas nela, crônicas baseadas em nossos encontros, e escrevi muitos outros poemas invisíveis no corpo dela enquanto a tocava, e a abracei diversas vezes a distância. 
Hoje não escrevo tanto como antes, pois como um poeminha meu mesmo diz: 

Escrever abre portas sombrias
Porque é uma arte profunda
Demais
É como cair num poço sem fim
E ver estrelas enquanto cai
E as estrelas entram em minha pele, perfurando
E eu não sei se isso é lindo ou se dói...


E como uma estrela, L explodiu e acabou ecoando pelo universo indefinidamente. Por isso, Poetas são sozinhos. A vida é uma história para nós, entre o amor e o amor. E não, isto não é bom, pois intensidade estraga tudo. Contudo, por incrível que pareça, dentro de mim se cultiva a paz. Provavelmente vou morrer sozinho - isto não me deixa triste. Não falo isso por causa das experiências anteriores, mas por minha invisibilidade: nenhuma garota olha para mim. Nem mesmo no ônibus. E ate hoje não olham. Não vou realizar meu singelo sonho de escrever com um lápis poemas no corpo da minha amada... 
Durante os términos com L, fui para o hospital ao ingerir muitos comprimidos para dormir, mas esta história fica para outro dia!

Curiosidade: Também tento conversar no Facebook! Nos 5 anos que tenho minha conta, nunca apaguei uma conversa, das 92 tentativas de conversas - porém, parei com isso fazem uns meses - (Oi, tudo bem?) 5 foram respondidas. 2 Duraram mais que 2 dias, e somente 1 durou mais que 3 dias.

A história nunca para e a vida tratará de construir muitas outras.

L.A.

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